Título: País acumula déficit de US$ 23 bi em conta corrente até setembro
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/10/2008, Nacional, p. A7

Brasília, 24 de Outubro de 2008 - O Brasil recebeu US$ 6,2 bilhões em Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) em setembro. Foi o segundo melhor resultado de toda a série histórica, que remete a 1947. Situação melhor foi registrada somente em janeiro de 2007, com a chegada de US$ 10,3 bilhões, época de lançamentos no mercado acionário. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, o forte fluxo de IED justamente no momento de intensificação da crise financeira internacional não surpreende. "É um dinheiro que chega ao País com um olhar de longo prazo", disse o executivo do BC. Para o mês de outubro, o banco estima um ingresso de US$ 3,5 bilhões de IED.

Mas os primeiros impactos da crise financeira internacional constam, sim, nos números revelados ontem pelo BC. Em tendência oposta à do IED, os investimentos estrangeiros em carteira tiveram saídas líquidas de US$ 1,2 bilhão em setembro. Em agosto haviam sido registrados ingressos líquidos de US$ 747 milhões. Os investimentos líquidos em ações registraram saída de US$ 1,9 bilhão em setembro, referentes a ações negociadas no país. Em outubro, as saídas do mercado de ações somam US$ 4,394 bilhões.

As despesas líquidas com lucros e dividendos, incluindo investimentos diretos e em carteira, atingiram US$ 3,4 bilhões, crescimento de 103,8% na comparação com setembro do ano passado. Em outubro, conforme posição até ontem, as remessas de lucros e dividendos atingem US$ 1,1 bilhão. O BC estima uma retração na quantidade de remessas devido a uma combinação de fatores que inclui a queda da rentabilidade das empresas e desvalorização do real, que joga para baixo a possibilidade de envio ao exterior.

Em meio aos resultados negativos, surpreenderam na nota do BC os números do segmento de títulos de renda fixa negociados no País, com captação de US$ 1,2 bilhão em setembro, ou seja, mantendo tendência, pois um mês antes houve também captação positiva de US$ 1,3 bilhão. Mas a acentuação da crise já reverteu essa tendência. Até o dia 23 de outubro, houve saída de US$ 842 milhões do mercado de títulos de renda fixa. O BC acredita que a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para capital estrangeiro poderá voltar a atrair investimento para o segmento de renda fixa.

O setor de serviços já mostra também os primeiros impactos da crise financeira. Enquanto que em setembro o déficit em viagens chegou a US$ 468 milhões (o maior da série para setembro), no acumulado até 23 de outubro caiu para US$ 242 bilhões. Segundo Lopes, há tendência de queda tanto nas despesas (os brasileiros vão viajar menos ao Exterior) e receitas (os países que enviam turistas ao Brasil também ficaram mais pobres desde o início da crise).

A conta de juros apresentou déficit de US$ 502 milhões em setembro e já atinge US$ 480 milhões até 23 de outubro, revela o BC. Outros investimentos estrangeiros de curto prazo apresentaram retração de US$ 1 bilhão em setembro, fazendo retrair o superávit do ano. Com isso, o fluxo positivo dos nove primeiros meses do ano ficou em US$ 3,9 bilhões e pode cair ainda mais se não houver renovação nessas linhas de capital de curto prazo.

Balanço de pagamentos

O déficit em transações correntes no balanço de pagamentos apresentou déficit de US$ 2,7 bilhões em setembro, atingindo US$ 23 bilhões no acumulado de 2008, o que representa 1,95% do Produto Interno Bruto (PIB). Conforme Altamir Lopes, o déficit em conta corrente de outubro deverá atingir US$ 2 bilhões. Em setembro do ano passado houve superávit em transações correntes de US$ 572 milhões, com resultado positivo acumulado nos primeiros nove meses de 2007 de US$ 3,6 bilhões. Segundo Lopes, a mudança de posição superavitária para deficitária deve-se a dois fatores: retração de US$ 11,2 bilhões nos resultados da balança comercial (redução do superávit comercial) e US$ 15,4 bilhões de remessas de lucros e dividendos na linha de serviços e rendas.

O BC divulgou também a posição do câmbio contratado até 21 de outubro, com um total de US$ 8,8 bilhões na linha de exportação, sendo US$ 2 bilhões para Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACC). O saldo total da parcial é negativo em US$ 3,3 bilhões.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Ayr Aliski)