Título: Lula volta a criticar os bancos por aperto nos financiamentos
Autor: Nascimento, Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/10/2008, Finanças, p. B3
24 de Outubro de 2008 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a responsabilizar os bancos por parte dos problemas de liquidez no mercado brasileiro. No início do mês, Lula já havia criticado as instituições financeiras por restringir os empréstimos e ontem disse que orientou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, a conversar com os bancos privados que estejam reduzindo a oferta de crédito, apesar da liberação do depósito compulsório - recursos que devem ser recolhidos ao BC, mas que foram liberados por meio de medidas provisórias com o objetivo de garantir maior liquidez ao mercado, particularmente, às instituições de pequeno e médio portes.
"Não há nenhuma razão para que os bancos parem abruptamente qualquer política de financiamento", afirmou Lula, ontem, após almoço com o rei da Jordânia, Abdullah 2º. Para o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva, as palavras do presidente refletem um gestor preocupado com as impactos da crise, que é externa e acabou entrando no País pela porta da liquidez, principalmente, de recursos estrangeiros. Segundo Oliva, entre 10% e 15% da composição do funding do sistema financeiro brasileiro era proveniente de linhas externas, que hoje estão raras.
Oliva lembrou que o compulsório foi liberado com a finalidade capitalizar a liquidez, com a aplicação na compra de carteiras de crédito, entre outros ativos, e que tais transações estão acontecendo, mas são operações demoradas. "São negociações que precisam de um tempo para análises dos ativos. Uma carteira, por exemplo, tem às vezes 150 mil contratos e não se avalia um ativo assim tão rapidamente."
Conforme o executivo, as medidas do governo têm o objetivo de blindar a dinâmica de crédito, o que é essencial para o desenvolvimento da economia, favorecendo o fluxo entre os bancos, mas ressaltou que a preocupação com a liquidez é generalizada e as próprias empresas reduziram suas demandas por empréstimos, engavetando projetos de expansão e dando prioridade ao dinheiro em caixa. O investidor, que alimenta a formação de funding dos bancos, também tem preferido os papéis públicos ao privado. "O que precisamos é de um pacto de todos para restabelecer a confiança e a partir daí a dinâmica do crédito." Oliva acredita que o pior da crise financeira mundial já passou. "Agora já começam as soluções e elas vão atingir o Brasil em seu momento mais aquecido, que é o último trimestre", disse, observando que, por isso, o País poderá se ressentir menos dos efeitos.
Sem favorecimento
O presidente Lula deixou claro ontem também que a autorização para que bancos oficiais comprem instituições financeiras privadas não significa dar dinheiro a empresas em dificuldade por conta da crise financeira global. "Não estamos dando dinheiro para qualquer empresa e para qualquer banco. E não vamos dar dinheiro. É importante saber que quem errou pagará pelo seu erro." O governo anunciou na última terça-feira um conjunto de medidas para proteger empresas e bancos dos impactos da crise global e permitiu, entre outras ações, a compra total ou parcial de instituições privadas pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. "Não vamos dar dinheiro porque não vamos favorecer quem fez especulação", enfatizou.
O presidente negou qualquer socialização de perdas e sinalizou que o dinheiro gasto em eventuais operações de aquisição de bancos e empresas pelas estatais poderá voltar aos cofres públicos. "O que o governo pode fazer em alguns momentos é comprar ações e, na medida que a empresa se recupere, vender as ações de volta", acrescentou Lula.
No campo político, o presidente assegurou que continuará a anunciar medidas para combater a crise e criticou a oposição por apostar no quanto pior, melhor. "Tudo o que a oposição deseja é que o Brasil entre numa crise profunda para eles poderem ter razão no discurso deles."
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Reuters e Iolanda Nascimento)