Título: Cotação do barril a US$ 70 pode inviabilizar pré-sal
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/10/2008, Infra-Estrutura, p. C2
São Paulo, 24 de Outubro de 2008 - A queda no preço do barril de petróleo pode inviabilizar a exploração da camada pré-sal brasileira, disseram ontem analistas ouvidos pela Gazeta Mercantil. Giuseppe Bacoccolli, pesquisador da coordenação dos estudos de pós-graduação de petróleo (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que, se o preço do barril cair para cerca de US$ 50, a exploração da nova fronteira petrolífera pode não acontecer. Porém, o especialista diz que não acredita que o barril atinja esse patamar. "Avalio que o custo médio da exploração do pré-sal para a Petrobras será entre US$ 60 e US$ 50, dependendo das condições dos campos, mas acredito que já em dezembro a cotação do petróleo retome o movimento de alta", diz Bacoccolli.
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cbie) é mais pessimista. "O barril a US$ 70 já inviabiliza a exploração da região", comenta. Porém, Pires ressalta que o que poderá acontecer é a postergação do início da exploração. "O pré-sal não deixará de existir. Acredito que a exploração poderá ser diferida no tempo, ou seja, Tupi está previsto para começar a produzir em 2015 e poderá ser postergado para 2018", explica o diretor do Cbie.
Saul Suslick, professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também acredita que o barril a US$ 50/US$ 60 inviabiliza a exploração na região. "Nem a Petrobras sabe o valor que inviabilizará a região, mas imagino que com o barril abaixo de US$ 50, os planos de exploração do pré-sal terão que ser postergados", afirma.
José Marcusso, diretor de produção e exploração da Petrobras, refuta as estimativas. "Qualquer especulação sobre viabilidade é prematura", comenta. O executivo explica que a estatal ainda está "investigando o comportamento dos campos do pré-sal". "Em março de 2009 faremos o teste de longa duração (TLD) de Tupi para conhecer os detalhes do campo. Depois disso, vamos iniciar o projeto-piloto em Tupi", justifica. Ele afirma ainda que no ano que vem, além de Tupi, outros dois projetos-piloto serão iniciados o de Guará e o de Iara. "Não tem como afirmar o preço do barril que inviabilizaria a região", garante.
Recuperação na cotação
Pires e Bacoccoli concordam que haverá uma recuperação do preço do barril. "Temos três fatores que irão influenciar fortemente nas oscilações do preço: as eleições nos Estados Unidos, a entrada do inverno no hemisfério Norte, que ampliará a demanda por combustíveis, e o corte na produção prometido pela Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo)", pontua Bacoccolli. "Esse fatores tendem a elevar o preço a partir de dezembro ou janeiro de 2009", completa. O especialista prefere não arriscar em quanto ficará a cotação no médio prazo, mas afirma que cerca de "US$ 100 é um bom preço".
Adriano Pires ressalta que com as incertezas na economia mundial fica muito difícil prever o preço. "Neste ano e no próximo economias como os Estados Unidos e o Japão apresentarão desempenhos negativos e isso impactará na cotação da commodity". Ele afirma que em 2009 o barril vai ficar perto dos US$ 75, fator que segundo ele determinará os prazos de exploração do pré-sal. "Em 2010 é difícil prever, mas se o mundo se estabilizar minimamente a tendência é de que o barril fica perto dos US$ 90", garante Pires.
Giuseppe lembra que o preço médio de exploração para a Petrobras em poços onshore (ou seja, na terra) e em águas rasas é de US$ 25 por barril com impostos. A extração em regiões pós-sal, ou seja, em águas profundas é de US$ 35 por barril. "O custo do pré-sal é difícil de estimar porque ainda há muitas incertezas na região como a quantidade de óleo e a forma de explorar, mas acredito que a exploração custe entre US$ 50 e US$ 60 por barril", diz o pesquisador justificando que a queda na cotação do óleo pode inviabilizar a camada pré-sal.
Plano de investimentos
Pires salienta ainda que até o final deste ano a Petrobras prometeu divulgar seu plano de investimentos revisado. "Acho que a Petrobras poderá postergar alguns investimentos como o da refinaria no Maranhão e, além disso, a estatal não deverá ampliar seus aportes no exterior", afirma. "Essas alterações se darão para que a Petrobras mantenha os investimentos no pré-sal", esclarece.
Marcusso, da Petrobras, comenta que a estatal "está analisando cuidadosamente seu portfólio para priorizar os projetos que têm rentabilidade alta e riscos menores".
Falta de financiamento
Sobre as possíveis dificuldades que a estatal petrolífera encontrará para conseguir financiamentos para a nova fronteira petrolífera, Pires e Bacoccolli são enfáticos: "Esse não é um problema para a Petrobras" ecoam os especialistas.
Pires afirma que, mesmo com a crise econômica mundial, os bancos terão que fazer empréstimos. "Os bancos terão que ser mais seletivos, mas continuarão emprestando dinheiro", justifica para completar: "Os projetos da Petrobras são muito atrativos, por isso não acredito que haverá falta de financiamento".
Para Bacoccoli, o mercado interno, que é atendido quase que totalmente só pela Petrobras, irá garantir forte geração de caixa. "O mercado será o financiador contanto que o governo autoriza a Petrobras a praticar preços de mercado para os produtos derivados de petróleo", explica. Hoje, a Petrobras mantém uma política de não reajustar o preço dos combustíveis (óleo diesel e gasolina) em períodos de forte oscilação do barril do petróleo. A estratégia é subsidiar os derivados para não impactar os índices de inflação.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 2)(Roberta Scrivano)