Título: CNI pede dilatação de prazo para pagamento de impostos
Autor: Morais, Márcio de
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2008, Nacional, p. A6

29 de Outubro de 2008 - O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, defendeu maior liquidez de crédito para o setor produtivo, e cobrou a dilatação do prazo para o governo recolher impostos dos empresários. Para Monteiro Neto, a crise já se "traduz em redução do nível de atividade produtiva". Hoje as empresas têm menos de 30 dias para pagar os tributos após uma operação. Tal prazo poderia ser ampliado para entre 40 e 50 dias. "Essa seria uma medida emergencial", declarou.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega afirmou que o pleito da CNI "está sendo cogitado", mas considera necessário ver o impacto da crise nas contas fiscais.

Monteiro Neto defendeu a criação de uma agenda de reformas para reduzir custos da economia brasileira e ampliar a escala de produção, como "dever de casa", para superação da crise financeira internacional. Para ele, a necessidade de o País investir "pelo menos" R$ 25 bilhões nos setores de infra-estrutura pode tropeçar na falta de marcos regulatórios e incertezas jurídicas que impõem taxas de crescimento menores ao País.

Para Monteiro Neto, "estratégias robustas" para o Brasil vencer a crise incluem a modernização do sistema tributário e das relações trabalhistas, a eficiência do gasto público e a melhoria na educação. O dirigente também defendeu a redução da taxa de juros pelo Conselho de Política Monetária (Copom), em sua reunião de hoje. "Se todos os países reduzem (os juros), como o Brasil pode ir na contramão", questionou, ao afastar qualquer chance de recessão interna. "Não haverá quadro recessivo, mas uma desaceleração", avaliou.

No Encontro Nacional da Indústria, que prossegue hoje em Brasília, Monteiro Neto lamentou a demora de até 30 horas para que um navio consiga atracar em portos nacionais, as estradas esburacas, as hidrovias e ferrovias insuficientes ao escoamento da produção, para observar que só a modernização pode evitar o retrocesso e a paralisia do mercado. O dirigente disse que a CNI apóia as medidas adotadas pelo governo, mas acredita que é preciso mais agilidade e rapidez para evitar que a demora traga impactos à economia real.

"Para este ano, a indústria vai crescer acima da média (mais de 5%); o desafio é o próximo ano ", observou. Ele lembrou que a dificuldade de crédito começa a afetar setores, como o automobilístico, que já registra uma pequena retração. "Aumento de exigências cadastrais e prazos mais curtos influem diretamente no consumidor", observou. O dirigente manifestou o temor de que o mercado brasileiro seja invadido por produtos da China, face à guerra comercial que a desaceleração econômica pode provocar no mercado internacional.

"O mundo inteiro teme uma invasão da China, que pode voltar-se para o mercado externo, com a oferta de produtos baratos." Para ele, o Brasil precisa das reformas para também poder oferecer produtos mais baratos e evitar entrar na onda de medidas protecionistas locais, cujo resultado "será a recessão e mais prejuízos à economia internacional". Monteiro Neto defendeu que os países da América do Sul adotem estratégias comuns contra a crise, para evitar tensões regionais. "É o momento de voltar para a própria agenda, de fazer o dever de casa".

"Desperdícios, corrupção e gastos ineficientes são origens de mais tributos", afirmou, referindo-se à imobilidade da sociedade na questão do controle dos recursos oficiais. A alienação sobre a qualidade dos gastos do governo explica a carga tributária atual, disse, ao propor o monitoramento permanente dos gastos públicos.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Márcio de Morais e Viviane Monteiro)