Título: Perdas do sistema financeiro global podem chegar a US$ 2,8 tri
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Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2008, Finanças, p. B4

Tóquio e Londres, 29 de Outubro de 2008 - O sistema financeiro global pode perder US$ 2,8 trilhões com a crise de crédito, segundo estimativa feita ontem pelo Banco da Inglaterra, antes mesmo do esperado corte da taxa de juro nos Estados Unidos, movimento que deve ser repetido por outros bancos centrais ao redor do mundo.

Governos já se comprometeram a injetar cerca de US$ 4 trilhões em instituições financeiras e mercados para conter a pior crise financeira em 80 anos, que forçou quedas expressivas dos mercados acionários e eliminou do mapa alguns bancos, acelerando o movimento de entrada em uma recessão em boa parte do globo.

O Japão restringiu as apostas de investidores na queda de preços de ações, medida com efeito imediato, para tentar segurar a queda dos mercados acionários, que teve efeito mais destacado sobre o setor de bancos. O governo japonês também tenta segurar a forte valorização da moeda local, o iene, que tem ameaçado aprofundar a desaceleração da atividade econômica do país.

As bolsas de valores na Europa tiveram altas acentuadas ontem, seguindo o bom desempenho da Ásia, onde a bolsa de Tóquio encerrou o pregão com valorização de 6,4%. Hong Kong saltou mais de 14%.

O primeiro-ministro japonês, Taro Aso, adiou a eleição parlamentar para focar seus esforços no trabalho de proteção do país, a segunda maior economia do mundo.

O banco central da Inglaterra disse que o trabalho feito até agora para conter a crise deve estabilizar o sistema bancário, mas a autoridade monetária britânica foi cautelosa sobre o impacto disso sobre a economia como um todo.

"A instabilidade do sistema financeiro global nas últimas semanas foi a mais severa de que se tem lembrança", afirmou John Gieve, membro da diretoria do BC inglês. "Com a desaceleração econômica mundial, o sistema financeiro continua sob estresse", acrescentou.

Juros segue em queda

O Banco da Inglaterra deve cortar seu juro básico na próxima semana, movimento que o Banco Central Europeu (BCE) e o Federal Reserve, dos Estados Unidos, devem repetir.

A decisão sobre a taxa de juro norte-americana será anunciada pelo Fed hoje. O BCE e o Banco da Inglaterra devem reduzir o juro na quinta-feira da próxima semana.

Os esforços coordenados dos bancos centrais para ampliar a liquidez nos mercados mundiais estão fracassando diante da retenção de recursos da parte dos bancos, segundo o índice formulado pelo Banco da Inglaterra, o BC do Reino Unido, para seu relatório semestral sobre estabilidade financeira.

O Índice Financial Market Liquidity, do BC britânico, mede o grau de discrepância de uma cesta de nove indicadores em relação ao seu valor médio. Esses índices incluem as diferenças entre os preços de oferta e de compra de bônus, moedas e ações, o coeficiente dos retornos sobre os volumes transacionados e os spreads do mercado de crédito (a diferença entre os juros praticados pelos bancos em empréstimos secundários e a taxa oficial). O Banco da Inglaterra calcula o índice duas vezes ao ano, e o nível atual é atualizado para 17 de outubro.

Quando a autoridade monetária inglesa lançou o índice, em abril de 2007, a liquidez estava em seu patamar mais elevado em 17 anos, e tinha duplicado nos quatro anos anteriores.

"A recente queda do indicador se deve, em grande medida, ao recuo significativo da liquidez do mercado interbancário", disse o Bank of England em seu relatório. "Os bancos terão de ajustar seus balanços patrimoniais e modelos de financiamento, distanciando-se dos atuais altos níveis de respaldo oficial ao setor. O crescimento da concessão de crédito deverá permanecer mais lenta do que nos últimos anos."

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Reuters)