Título: País deve exportar mais etanol, apesar da queda do petróleo
Autor: Batista, Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2008, Agronegócio, p. B11
São Paulo, 29 de Outubro de 2008 - Apesar dos preços mais baixos do petróleo e da crise que afeta em cheio os Estados Unidos, o mercado acredita que os americanos vão importar do Brasil em 2009 volume de etanol semelhante ao recorde previsto para este ano safra, em torno de 3,1 bilhão de litros. Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, afirma que os baixos preços do petróleo vão atingir em cheio a competitividade do etanol de milho, e não o de cana. "Para afetar o álcool brasileiro, o petróleo, - atualmente em US$ 62 o barril - teria que cair a níveis de US$ 45", calcula o especialista.
Mas, o petróleo em níveis mais baixos traz preocupações, não em relação à demanda americana, conforme explica Tarcilo Rodrigues, da Bioagência. Mas se haverá preços remuneradores às usinas. "A mistura é mandatória e, o preço não interfere muito na demanda. A questão é saber se haverá margem positiva aos produtores", pondera Rodrigues.
Atualmente não compensa. Com o petróleo nos níveis de US$ 60, o etanol no mercado americano está sendo cotado a US$ 1,80 o galão (3,785 litros), valor que deve, no mínimo, chegar a R$ 2,05 para compensar a exportação às usinas brasileiras, que têm de pagar uma taxa de exportação de US$ 0,54 por galão no mercado americano.
Independentemente da questão financeira, o etanol brasileiro atende uma região dos Estados Unidos que tem logística muito complicada para ser abastecida por etanol americano. "A Costa Oeste, sobretudo da região da Califórnia, só consegue se abastecer de etanol americano por via ferroviária, o que eleva muito o custo logístico, diferentemente de outras regiões, como a do Golfo, que recebe o produto por barcaças", detalha Rodrigues.
Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) acredita que as exportações brasileiras na próxima safra podem não crescer, mas também não terão decréscimo. "As vendas externas sempre foram pequenas e voláteis, independentemente do preço do petróleo", pondera.
Consumo Mundial
Na conferência da Datagro, ontem em São Paulo, Ingo Kalder, da Cargill Agrícola S.A., previu que o consumo de etanol no mundo continuará crescendo, apesar da crise nos mercados. Segundo ele, o volume consumido será de 126 bilhões de litros em 2015, quase o dobro do volume deste ano (65,7 bilhões de litros). "Os Estados Unidos não terão condições de produzir etanol suficientes para atender sua demanda doméstica. Eles devem importar no próximo ano mais ou o mesmo do volume deste ano", estima Kalder.
Ele acrescenta ainda que a China e a União Européia devem ser os consumidores com maior incremento de suas demandas internas. O consumo na comunidade européia, que neste ano deve atingir 3,4 bilhão (dos quais 1 bilhão importados do Brasil) será próximo de 16 bilhões em 2015. No mesmo período, o consumo chinês vai crescer de 1,9 bilhão para 7,6 bilhão de litros. "Além dessas regiões de maior impacto, outros países estão adotando políticas de mistura de etanol à gasolina, como o Vietnam, a Colômbia, a Bolívia, a Argentina e o Peru", diz o executivo da Cargill.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Fabiana Batista)