Título: Nova linha a exportador terá juro maior
Autor: Pereira, Renée
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/10/2008, Economia, p. B9
Custo para reforço de R$ 5 bi do BNDES vai variar conforme o setor
Mônica Ciarelli e Adriana Chiarini, RIO
O aumento do crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à exportação em R$ 5 bilhões virá acompanhado da alta do custo médio do financiamento ao comércio exterior. O presidente da instituição, Luciano Coutinho, detalhou ontem as condições da nova linha, batizada de pré-embarque especial. Ele lembrou que o BNDES tem como objetivo complementar o esforço feito pelo governo, principalmente pelo Banco Central, de suprir a oferta de crédito à exportação diante da crise.
¿As linhas de crédito às exportações evaporaram, ficaram desidratadas, depois da paralisia do sistema de crédito global.¿ A nova linha terá prazo de 18 meses e taxa diferenciada por categoria. Ficou mantida a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), hoje em 6,25%, para os setores de equipamentos industriais, de infra-estrutura e material aeronáutico.
No entanto, o custo de financiamento subiu para os segmentos de bens de capital, automotivo (ônibus, caminhões e tratores) e também para bens de consumo. Os dois segmentos poderão escolher entre juros fixos de 15% ao ano, mais spread dos agentes repassadores, ou uma taxa que está atualmente em 7,65%, mais spread dos agentes, que varia de acordo com uma cesta de moedas.
Pela primeira opção, o exportador pagará um pouco mais caro, mas fica protegido de variações cambiais. Nas linhas tradicionais, a taxa fixa antes variava entre 8% e 12% ao ano.
O BNDES decidiu ainda ampliar de US$ 50 milhões para US$ 150 milhões o limite de acesso ao crédito à exportação a companhias do setor de bens de consumo. O objetivo é dar gás às empresas para que não paralisem vendas externas.
De janeiro a agosto, o banco liberou US$ 3,5 bilhões para a exportação e a expectativa era chegar ao fim do ano com o patamar de US$ 6 bilhões. Mas, com os novos recursos, Coutinho espera atingir US$ 8,5 bilhões, dependendo da demanda e do uso dos R$ 5 bilhões extras, que podem ser desembolsados em até 12 meses.
O cálculo do valor de US$ 8,5 bilhões traz implícito o câmbio médio a R$ 2 até o fim do ano. Mas Coutinho disse não poder prever qual será o câmbio. Ainda sem saber que o dólar havia chegado a R$ 2,30 enquanto concedia entrevista, disse acreditar que ¿o câmbio de hoje (ontem), de R$ 2,20, está refletindo um momento de grande tensão e não vai perdurar¿.
Ele prevê que o crédito à exportação no Brasil se normalizará em três meses. Ressaltou que, no mundo, porém, esse processo deve demorar mais e depende da posse de um novo governo nos Estados Unidos, entre outros fatores. Coutinho admite que a economia brasileira vai desacelerar no ano que vem, mas pouco. ¿Não há motivo para jogar a toalha¿, enfatizou. ¿Não há nenhuma razão para a economia brasileira se deixar contaminar e desacelerar o seu crescimento significativamente.¿
Até agora, segundo Coutinho, não foi sentida nenhuma redução na demanda por crédito no BNDES, mas disse também não saber ¿se a demanda por investimentos se manterá com tanta firmeza¿. Ele lembrou que a meta de aumentar os investimentos para 21% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 está baseada em um aumento anual de 11% e que o ritmo no primeiro semestre foi de cerca de 16% ao ano. Também disse que a demanda por crédito no BNDES cresceu, até agora, num ritmo até superior a isso.
O executivo minimizou os anúncios de cancelamento de projetos de investimentos por empresas, dizendo que não é o cancelamento de um ou outro que permitirá ¿aquilatar¿ a demanda por investimentos.
NÚMEROS
18 meses é o prazo da nova linha criada pelo BNDES
6,25% ao ano será o juro cobrado para os setores de equipamentos industriais, de infra-estrutura e material aeronáutico
15% ao ano será o custo para os segmentos de bens de capital, automotivo (ônibus, caminhões e tratores) e para bens de consumo. Nesse caso, a taxa de juro cobrada é prefixada. Há, também, para esses setores, a opção de uma taxa variável de 7,65% ao ano