Título: Com a crise, FMI volta a ter papel central na economia
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Fonte: Gazeta Mercantil, 03/11/2008, Nacional, p. A5
Paris, 3 de Novembro de 2008 - A expansão econômica dos últimos anos parecia ter relegado o Fundo Monetário Internacional (FMI) à posição secundária na história, mas a devastadora crise financeira que teve origem em Wall Street lançou novamente a instituição ao centro do cenário mundial.
Nos últimos dias, o FMI negociou empréstimos condicionados a Hungria, Ucrânia e Islândia. As últimas grandes intervenções do fundo datavam da crise asiática de 1997-98 e de seus efeitos secundários na América Latina.
Esta região sofreu o trauma da década 80-90, quando estavam em vigor políticas de austeridade impostas pela instituição internacional durante a crise da dívida externa, desencadeada pelo default mexicano de 1982, para salvar os bancos comerciais internacionais.
Nos últimos anos de bonança, impulsionados pelo aumento do preço das matérias-primas, os principais países latino-americanos saldaram suas dívidas com o organismo financeiro multilateral, que deixou de supervisionar suas economias.
Mas a tormenta financeira já começou a fazer estragos, sobretudo na Europa do Leste, e ameaça as economias emergentes golpeadas pela fuga de capitais, com a desvalorização de suas moedas e o desaparecimento do crédito.
A Islândia, com 320.000 habitantes e uma economia dependente de seus bancos que emprestaram no exterior nove vezes o seu PIB, foi o primeiro país da Europa Ocidental a recorrer ao FMI em 32 anos.
A entidade estendeu ao país um empréstimo stand-by, ou seja, condicionado, de US$ 2,1 bilhões, que deve ser complementado por outros US$ 4 bilhões que seriam oriundos de recursos emprestados por seus vizinhos nórdicos, além dos Estados Unidos e da Rússia.A Ucrânia, com menos de duas décadas de capitalismo, já estreou com a ajuda do FMI, com o qual tem pendente de um crédito de US$ 16,5 bilhões, mas tensões políticas internas impediram que o parlamento aprovasse um pacote de medidas exigido pelo fundo.
Outro país do ex-campo soviético, a Hungria, endividado em euros e em risco de default depois da desvalorização da moeda local, o forint, em 20% em outubro, fez um acordo para um empréstimo de US$ 16,3 bilhões do FMI, que será acompanhado por outro de US$ 8,5 bilhões da UE e outro do Banco Mundial de US$ 1,3 bilhão. O FMI também, negocia empréstimos com Paquistão e Turquia.
Enquanto isso, a América Latina tenta evitar cair novamente nas redes do Fundo, apesar da forte desvalorização de suas moedas nacionais.
Os bancos centrais de Brasil e México gastaram dezenas de bilhões de dólares de suas reservas para defender o real e o peso, o primeiro desvalorizado em 40% nos últimos meses.
O Federal Reserve americano veio ajudar esses países esta semana com linhas de swap de US$ 30 bilhões cada para ajudar a troca de moeda local, por considerar que suas economias estão bem administradas. Ajudas semelhantes foram estendidas a Cingapura, Coréia do Sul e Nova Zelândia.
Ao mesmo tempo, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss Kahn, anunciou esta semana em Washington uma taxa de empréstimo a curto prazo sem condições para os países "bem administrados".
Além de Brasil e México, o Chile também poderá ser beneficiado por esta modalidade. Entretanto, os analistas se preocupam com os países excluídos, cuja percepção de risco pode subir.
A Argentina, com um alto nível de endividamento e sem terminar de saldar o default de 2001, ficou excluída desta facilidade.
Strauss Kahn, um ex-ministro de finanças socialista afirma, no entanto, que o FMI já não é o mesmo desde que chegou reformando o sistema de direitos de votação.
Strauss Kahn afirma que o FMI "aprendeu com os erros do passado" e diz que proporá no dia 15 de novembro, em Washington, aos países do G-20 "um novo plano de governabilidade" do sistema financeiro.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(AFP