Título: País segue dependente das usinas nucleares
Autor: Oliveto, Paloma
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2011, Mundo, p. 12

Apesar de todos os graves riscos envolvidos ¿ sobretudo por estar localizado numa região de constantes tremores sísmicos ¿ a escolha do Japão pela proliferação de usinas nucleares para gerar eletricidade parece algo inevitável. O país populoso e dono de um dos maiores parques industriais do planeta não dispõe de recursos energéticos naturais para gerar eletricidade suficiente.

Existem, hoje, 55 usinas nucleares gerando energia suficiente para cobrir quase um terço de sua demanda. Outras três ainda estão em construção e muitas outras estão em projeto. Elas representam a principal fonte de produção de energia no Japão. Em matéria de quantidade, o Japão só fica atrás de Estados Unidos e França.

Além dos potenciais problemas econômicos gerados pela oscilação nos preços internacionais de combustíveis fósseis (gás, petróleo e carvão), o arquipélago japonês investe há décadas em alternativas mais seguras de fornecimento doméstico de energia. O mercado japonês é o terceiro maior importador de petróleo e depende do produto para movimentar diversas usinas.

Antes mesmo de o maior terremoto de sua história, ocorrido na sexta-feira e seguido de tsunami, levar a um alerta de contaminação em três grandes usinas, o país já havia registrado uma série de pequenos acidentes em termelétricas atômicas nos últimos anos. Mas a ausência de poços de petróleo e as escassas reservas de fontes naturais, novamente, explicam a importância da energia nuclear na política energética nacional, para garantir abastecimento a 130 milhões de japoneses.

Razões ambientais Recentemente, as pressões mundiais em favor da redução das emissões de gases de efeito estufa tornaram ainda mais evidente a dependência japonesa das suas fontes de energia nuclear. Apesar dos riscos que elas acarretam e o curto tempo de vida, as usinas nucleares ainda são uma saída para a geração de uma energia chamada limpa, com menos emissão de carbono.

Mesmo com cerca de 30% da eletricidade do país vinda da geração de energia nuclear, o governo planeja para os próximos anos aumentar este percentual visando reduzir a sua dependência do petróleo e satisfazer a necessidade de diminuir emissões de gases de efeito estufa. Para os congressistas e a própria indústria de geração de energia, o maior dilema continua sendo apoiar a geração de energia nuclear ao mesmo tempo em que a opinião pública se preocupa cada vez mais sobre a sua segurança, sobretudo no contexto dos terremotos.

A imprensa japonesa já iniciou um recente debate em torno dos pareceres tranquilizadores emitidos pelas agências governamentais do país que supervisionam a geração de energia nuclear, além das próprias companhias elétricas. A suspeita é que elas tendem a subestimar os diversos riscos envolvidos. Por isso, crescem as pressões para o estabelecimento de um órgão regulador de segurança independente do Ministério da Economia, Comércio e Indústria, ao qual estão vinculados os projetos de centrais de energia nuclear.

O governo japonês chegou a propor parceria com o Brasil para implantar usinas termelétricas movidas por etanol de cana de açúcar. A falta de garantias de volumes exportados por usinas de álcool brasileiras e condizentes com essa nova demanda acabaram, contudo, adiando os projetos. (SR)