Título: Rebeldes oprimidos na Líbia
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Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2011, Mundo, p. 17

Tropas do governo ameaçam tomar a segunda cidade mais importante do país e ditador pede investimentos petroleiros

Forças armadas fiéis ao ditador líbio Muamar Kadhafi tomaram no fim de semana diversas cidades que estavam em poder dos rebeldes. Além de reconquistar Brega (polo petroleiro no leste do país), Uqayla e Bisher, o grupo avançou em direção a Benghazi. Nessa última, a 240km de Brega e segunda cidade em importância do país, as comunicações por telefone celular estiveram cortadas durante todo o dia de ontem.

Paralelamente a isso, os integrantes da oposição tentavam resistir, embora com menor experiência militar e equipamentos menos poderosos que os dos inimigos. No caminho entre Brega e Ajdabiya (a 80km dali), que serve de porta de entrada para Benghazi e Tobruk (também território dos rebeldes), eles ocupavam veículos dotados de equipamento antiaéreo. ¿Ajdabiya é uma cidade vital e será defendida¿, assegurou o general Abdul Fatah Yunis, líder dos rebeldes.

A oposição já havia perdido na semana passada o controle de Ras Lanuf, porto petroleiro a 40km a oeste de Brega e a 650km da capital, Trípoli. A derrota ocorreu depois que o grupo leal a Kadhafi atacou a cidade com artilharia e bombardeios aéreos. O ditador comemorou a retomada pedindo que as empresas estrangeiras voltassem a enviar seus petroleiros.

Segundo a televisão estatal, a Companhia Nacional de Petróleo anunciou: ¿Os portos líbios já são seguros depois que se pôs fim a atos de sabotagem, tornando-se, agora, operacionais. Ras Lanuf foi libertada dos grupos armados e em todas as instituições (da cidade) foram hasteadas as bandeiras verdes¿.

Concessões Enquanto Khadafi celebrou o avanço contra a oposição, o chefe de Estado em Omã, Qaboos bin Said, decidiu ceder poderes de legislação e de fiscalização a dois conselhos: um nomeado pelo sultão (Conselho de Estado) e outro eleito (Shura). Anteriormente, ambos só ofereciam assessoria política, e apenas o sultão e seu gabinete poderiam legislar.

¿Uma comissão técnica de especialistas deverá ser constituída para desenvolver o projeto de alteração da Lei Fundamental do Estado para que ela esteja de acordo com a nova determinação¿, decretou Bin Said em texto divulgado pela agência estatal de notícias, a ONA. ¿Esse grupo terá de apresentar um relatório em no máximo 30 dias.¿

O sultão, que governa o Omã há 40 anos, também divulgou que dobraria o valor da ajuda da previdência social e dos benefícios das pensões. O anúncio foi feito no dia em que os trabalhadores de duas empresas do país entraram em greve para exigir aumento salarial e três semanas depois dos primeiros protestos no país. Até o momento, uma pessoa morreu durante essas manifestações.

A iniciativa de Bin Said foi recebida com um misto de ceticismo e esperança pelos manifestantes, que passaram dias acampados diante do Conselho Shura para exigir emprego, melhores condições de vida e ampliação da reformas políticas. Para conter a revolta popular, o chefe de Estado já havia feito mudanças na estrutura dos ministérios e do próprio gabinete durante a semana passada.

Mortes O domingo foi de protestos em outras partes do mundo árabe. No Iêmen, o balanço de mortos no fim de semana chegou a oito. Sete manifestantes morreram no sábado e um ¿ de 25 anos ¿ faleceu ontem, em Áden, depois de levar um tiro disparado pela polícia. Já na capital, Sanaa, pelo menos 70 pessoas foram feridas ¿ 14 delas a bala ¿ e duas estão em estado crítico, segundo informações da Al Jazeera .

Os manifestantes estavam fazendo barricadas na Praça da Universidade desde o início do dia para pedir a saída de Ali Abdullah Saleh, no poder há 32 anos. Como reação, as tropas leais ao governo abriram fogo, atiraram pedras, bateram nos manifestantes com cassetetes e jogaram gás lacrimogêneo.

No Bahrein, inúmeros manifestantes bloquearam estradas e o comércio fechou as portas no centro da capital, Manama, na tarde de ontem. Um homem morreu em consequência desses protestos. Além disso, mais de 200 pessoas foram hospitalizadas ¿ três em estado grave ¿ depois que a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes que tentavam bloquear o acesso ao distrito financeiro na capital. A União Geral dos Sindicatos de Trabalhadores ainda lançou uma convocação de greve geral, classificando como ¿violação dos direitos humanos¿ o tratamento dado aos manifestantes.

O rei do país, o sunita Hamad Ben Isa Al Jalifa, reagiu às notícias prometendo iniciar rapidamente um diálogo com a oposição xiita, dominada pelo partido Wefaq. O chefe de Estado encarregou ao príncipe herdeiro Salman ben Hamad Al Jalifa a missão de iniciar esse processo. Os manifestantes pedem a demissão do governo e a instauração de uma monarquia constitucional, em que o primeiro-ministro seja eleito pelo povo.

Cinegrafista assassinado A emissora de televisão lamentou o assassinato do cinegrafista Ali Hassan Al Jaber, na Líbia, na tarde do último sábado. Trata-se do primeiro profissional da imprensa morto durante a cobertura dos recentes protestos no país. Ao lado de pelo menos três colegas, ele retornava de um protesto próximo à cidade de Benghazi quando o carro em que viajavam foi ¿ segundo a empresa ¿ alvo de uma emboscada. ¿Essa e uma extensão da campanha contra a Al Jazeera, porque todos aqui assistem à emissora¿, acusou o correspondente da emissora em Benghazi, Tony Birtley.