Título: Monsanto investe US$ 290 milhões para estrear em cana
Autor: Tenório, Roberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/11/2008, Agronegócio, p. B12

São Paulo, 4 de Novembro de 2008 - Apostando no potencial que o setor sucroalcooleiro terá no futuro como fonte alternativa de energia e matéria-prima de outros produtos, a Monsanto, empresa americana especializada em biotecnologia, anunciou ontem a compra das brasileiras CanaVialis S.A. e Alellyx S.A. por US$ 290 milhões (R$ 616 milhões). As empresas pertenciam ao Grupo Votorantim e são especializadas em biotecnologia e melhoramento genético da cana-de-açúcar, passando a fornecer a plataforma que a empresa americana necessita para entrar efetivamente no setor. A divulgação da venda surge pouco mais de vinte dias após a Votorantim declarar prejuízo de R$ 2,2 bilhões com derivativos por causa da desvalorização da moeda brasileira.

A operação é o terceiro grande investimento da Monsanto no Brasil em um ano. No segundo semestre de 2007 foi anunciada a compra da Agroeste Sementes e um investimento de US$ 60 milhões na expansão de pesquisa e produção do insumo.

O presidente da Monsanto no Brasil, André Dias, afirma que a compra é uma oportunidade melhorar geneticamente a cana e melhorar sua produtividade. "Isso mostra nosso compromisso com a agricultura e nossa aposta de longo prazo no Brasil", acrescenta o executivo. As negociações foram intermediadas pela Demarest e Almeida Advogados entre os dias 29 e 30 de outubro, por meio de uma reunião que durou 30 horas.

Ricardo Madureira, presidente da CanaVialis e Allelyx, revela que em 2009 serão plantadas as primeiras mudas que são frutos de 5 anos de pesquisas. "São seis variedades que proporcionam um incremento entre 8% e 22% na produtividade de sacarose". Ele explica que uma dessas variedades possui maior resistência a seca e favorece a expansão da cultura para regiões como Goiás e Tocantins. Dias lembra que a Monsanto investe US$ 800 milhões em pesquisas anualmente e que o Brasil possui as melhores condições climáticas para a fotossíntese dos canaviais. Porém, não revelou quanto será investido nas novas empresas. Com relação à celulose extraída da cana, Madureira disse que as empresas trabalham em conjunto na busca por genes que aumentem o potencial das fibras da planta. "Isso deve melhorar a produção de biomassa para energia e celulose", completa.

Em um mês, é a segunda operação de grandes empresas no setor sucroalcooleiro, que busca no futuro fazer parte do mercado internacional das commodities agrícolas. No último dia 14, a Votorantim Novos Negócios, braço do grupo responsável por identificar e investir em novas tendências no setor de biotecnologia, anunciou um aporte de recursos com valor não divulgado na Amyris Inc, empresa americana especializada em engenharia de micróbios.

Fernando Reinach, diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios, explica que a venda nada tem a ver com as perdas com derivativos. Segundo informou, o objetivo do grupo é investir em capital de risco para, após consolidado, ser negociado.

A Alellyx foi criada em 2002 e encarregada de mapear o seqüenciamento de uma bactéria causadora da praga conhecida como amarelinho, que na década de 1990 afetou dois terços dos laranjais de São Paulo.

A CanaVialis surgiu no ano seguinte por meio de uma parceria entre a Votorantim Novos Negócios e cientistas com mais de 30 anos de experiência em variedades de cana-de-açúcar. A companhia possui contrato com 73 usinas, com uma área de produção que atinge 1,1 mihõa de hectares ou 15% do mercado. O grupo Votorantim se associou a dois famosos pesquisadores do setor sucroalcooleiro: Sizuo Matsuoka e Hideto Arizono, responsáveis por 60% das variedades em uso no Centro-Sul. A verba destinada às duas empresas foi de R$ 300 milhões. Cerca de R$ 30 milhões foram aplicados em ambas empresas.

Dias acrescenta que as empresas negociadas são ferramentas importantes para acelerar o trabalho de inclusão da multinacional no setor. Ele não descarta uma transferência das tecnologias para outros países. "Estamos presentes em cerca de 60 países. É possível que essa aquisição favoreça nossa entrada em novos mercados", disse. Mas o executivo ressaltou que o núcleo de desenvolvimento da cana será no Brasil.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 12)(Roberto Tenório)