Título: PT revê o estatuto
Autor: Mello, Alessandra
Fonte: Correio Braziliense, 15/03/2011, Política, p. 3

Conhecido como o único partido com eleições internas democráticas, o PT incluiu na proposta de reforma do estatuto uma redução da participação dos militantes na escolha dos dirigentes. O argumento dos caciques é coibir filiações em massa na véspera das votações e reverter um processo de superficialização das escolhas dos últimos anos. ¿Existe uma reflexão sobre como fazer o processo mais consistente. Hoje, está pouco propenso ao debate. É preciso torná-lo eficiente¿, afirmou o deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente da legenda, que coordena o grupo de reforma do estatuto. Uma redução do número de filiados capazes de participar da eleição interna é vendida como tentativa de qualificar o voto dos militantes. ¿Não é diminuir, mas qualificar¿, disse o parlamentar por São Paulo.

A discussão sobre a reforma teve a primeira reunião no fim de fevereiro. O segundo encontro está previsto para hoje. Os debates terão como foco as experiências dos Processos de Escolha Direto (PED) desde 2001, a democracia interna e a eficácia das instâncias dirigentes. ¿Há um consenso sobre a necessidade de se construir um mecanismo de coibir filiações despolitizadas antes de eleições¿, disse o ex-dirigente.

Os últimos PEDs foram marcados por suspeitas de que o vencedor patrocinou filiações em massa para ganhar. Em dezembro de 2007, o deputado distrital Chico Vigilante denunciou que houve esquema de filiação em massa de moradores de Sobradinho. Na época, disputavam a Presidência nacional da legenda Berzoini e o deputado Jilmar Tatto (SP). Desde então, discute-se instrumentos para politizar os filiados. Parte da ideia saiu do papel com o estabelecimento da escola nacional de formação política. O problema, citado por críticos da iniciativa, é limitar o acesso de filiados às eleições internas e tornar o PT uma legenda com rumos definidos por uma cúpula. A reforma do estatuto, resultado desse embate, deverá ser concluída entre o fim de abril e o início de maio.

Além da discussão sobre a democracia interna, os petistas articulam uma forma de aproximar o estatuto de movimentos sociais. Parte do PT critica a legenda por ter se distanciado, durante o governo Lula, de entidades representativas de trabalhadores. ¿Os movimentos sociais são autônomos, não se pode substituí-los. O PT sempre esteve sintonizado com eles. O problema é que os movimentos sociais buscam respostas mais rápidas do que o governo pode dar¿, disse Berzoini.