Título: IBGE revisa crescimento em 2006 de 3,8% para 4%
Autor: Americano, Ana Cecília
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/11/2008, Nacional, p. A7

Rio de Janeiro, 6 de Novembro de 2008 - O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem a revisão das contas dos principais indicadores da economia nacional em 2006, entre os quais está o do Produto Interno Bruto (PIB). Com isso, a avaliação preliminar baseada na consolidação dos trimestres de 2006, que era de um crescimento de 3,8% no ano, foi recalculada para 4%.

A diferença, explica Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais da instituição, fica por conta da consolidação de uma base de dados muito maior que compreende novas pesquisas e dados sobre o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica. Oficialmente, portanto, em valores atuais, o PIB de 2006 somou R$ 2,37 trilhões. O PIB per capita também cresceu - no caso, 2,5%, totalizando R$ 12.688,00 por cidadão.

Essa expansão do produto interno bruto foi puxada pelos serviços, cujo peso no PIB em 2006 cresceu de 65% para 65,8%. Assim, o grupo de serviços se expandiu no período 4,2% em termos de volume e 7,2% em termos de preço. A agricultura, com o peso de 5,5% na formação do PIB, cresceu 4,5%. A indústria perdeu parte do peso que dispunha na formação do PIB, caindo de 29,3% em 2005, para 28,8% em 2006. Seu crescimento no ano foi de 2,9%.

Para o especialista, para se compreender as contas nacionais é essencial se levar em conta, além do crescimento do PIB, a ótica do volume dos preços da economia.

Olinto chamou a atenção para o deflator no período, de 6,1% - mais baixo desde 2003. Na prática, ele significa que os preços médios em toda a economia - em comparação os preços de 2005 - subiram 6,1%. Em 2005, essa variação foi de 7,2%; em 2003, chegou a 13,7%.

"O deflator não pode ser considerado exatamente como inflação, cujo conceito teórico limita-se à variação de preços circunscritos ao consumo dos produtos chegam às famílias e que, segundo o IBGE, é medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)", explicou o coordenador.

De acordo com o pesquisador, o deflator das contas nacionais é um conceito muito mais amplo, pois compreende a variação do conjunto de preços na economia: incorpora o IPCA, assim como a variação dos produtos importados, dos preços ao atacado, dos investimentos, das importações, das exportações e das taxas de câmbio.

Crescimento do consumo

De acordo com o IBGE, os principais fatos econômicos de 2006 foram o crescimento de 4,5% do consumo final; o aumento da taxa de investimento do país - de 15,9% em 2005 para 16,4% naquele ano. Houve queda no saldo externo de bens e serviços, que se verificou a partir do desequilíbrio entre a variação do volume de produtos importados (+18,4%) e a variação do volume de produtos exportados (+ 5%).

Também contribuíram de forma expressiva para o cenário econômico a expansão do crédito no País, a redução da taxa básica de juros; e o aumento da carga tributária bruta, ainda que a carga tributária líquida se mantivesse estável.

Agropecuários

O detalhamento das contas nacionais permitiu, ainda, apurar alguns fenômenos importantes. Tendo em vista o consumo final de bens e serviços, a maior expansão registrada foi a dos produtos agropecuários, ou 8,2%. Isso leva a crer que o brasileiro passou a comer mais. As famílias também consumiram mais 7,8% de serviços financeiros, seguros, previdência complementar e afins. E 6,4% de produtos industriais.

Papel das ONGs

Outro dado interessante que saltou das planilhas que descrevem o comportamento das despesas nas famílias é o papel das instituições sem fins lucrativos a serviço das famílias. "A sigla ISFLSF corresponde às ONGs, igrejas, sindicatos e afins", explicou Olinto. Esse grupo repassou às famílias R$ 33 bilhões em 2006, um crescimento de 1,7% sobre 2005. No caso, as despesas da administração pública que podem ser contabilizados no consumo das famílias - ou seja, os gastos do governo com serviços públicos que são usados pelos cidadãos individualmente (saúde e educação), nos quais gastos coletivos com defesa, por exemplo, não são contabilizados - chegaram a R$ 170 bilhões. Assim, a renda nacional disponível pelas famílias, de R$ 1,467 trilhão em 2006, é ampliada para R$ 1,67 trilhão se ajustados esses novos componentes.

Quando o IBGE analisa as contas nacionais do ponto de vista da renda, os salários representaram 32,5% do PIB em 2006, um crescimento ante os 31,7% de 2005. Já, as contribuições sociais (FGTS, INSS e outros) chegaram a 8,4% do PIB em 2006, e a remuneração do capital (também descrita como excedente operacional bruto) 34,8%. Uma categoria denominada de rendimento misto bruto - e que corresponde àquelas famílias que têm o seu negócio, portanto, recebem tanto a remuneração pelo seu trabalho, como o lucro que dele obtêm - contribuiu com 9%. Por fim, impostos líquidos sobre a produção fecham a conta, participando com 15,3%.

Financiamento

Levando-se em conta um período de análise maior - entre 2002 e 2006 - outro dado chama a atenção. A necessidade líquida de financiamento do País saiu de menos R$ 21 bilhões no início da série, para uma capacidade R$ 21 bilhões positivos em 2006.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Ana Cecília Americano)