Título: Forças Armadas ganham frente parlamentar no Congresso
Autor: Bruno, Raphael
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/11/2008, Política, p. A10

Brasília, 6 de Novembro de 2008 - Com o objetivo de aumentar a participação do Congresso Nacional nos assuntos relacionados às Forças Armadas e cobrar mais dedicação do governo ao setor, parlamentares lançaram ontem, em Brasília, a Frente Parlamentar da Defesa Nacional. O movimento, que conta com o apoio de 227 deputados e senadores, foi apresentado em almoço realizado no Clube Naval da cidade. "O Congresso Nacional não pode ficar, e tenho certeza que não ficará, à margem de uma agenda política que diz respeito à própria soberania da sociedade nacional", comentou o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), um dos idealizadores da frente, na solenidade que contou com a presença do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, e dos presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN).

"A idéia surgiu da constatação de que o Brasil, embora não tenha uma ameaça com face, está envolvido em um clima internacional que, aliado à projeção do País, torna o ambiente ameaçador. Temos as ameaças não-estatais, como o narcotráfico. E temos a cobiça em cima de componentes como o pré-sal e a Amazônia. O Congresso Nacional não podia permanecer desatento a isso", acrescentou Jungmann.

Paradoxo

Para o deputado do PMDB, as Forças Armadas enfrentam hoje um paradoxo: ao mesmo tempo em que se afirmam entre as instituições de maior prestígio diante da opinião pública, sofrem com a ausência de um compromisso maior por parte do Executivo às suas reivindicações. O deputado preferiu não comentar as medidas do Plano Nacional de Defesa, em elaboração pelo ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, mas criticou a falta de recursos direcionados às Forças Armadas e sugeriu que o plano, antes de ser promulgado, fosse encaminhado para o Congresso Nacional para análise e eventuais sugestões dos parlamentares.

O objetivo confesso da frente é formar um "canal de diálogo direto entre as Forças Armadas e o poder Legislativo". O movimento parlamentar conta, em sua direção, com figuras de expressão dentro do Congresso, como o presidente nacional do PMDB, o deputado federal Michel Temer (SP), e o ex-presidente da Câmara, deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Rebelo, inclusive, era nome especulado para o Ministério da Defesa numa provável reforma ministerial guardada para o início do próximo ano. Nos bastidores do Congresso, cogitava-se a possibilidade do ministro Nelson Jobim ser indicado ao Ministério da Justiça pelo PMDB, o que deixaria a vaga de Jobim aberta para o deputado do PCdoB.

Líderes peemedebistas, contudo, garantem que o próprio senador José Sarney (PMDB-AP), um dos apontados como interessados no Ministério da Justiça, já avisou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o partido não vislumbra tomar a pasta do ministro Tarso Genro. Dirigentes do PCdoB também garantem que a possibilidade de Aldo vir a ocupar o ministério da Defesa não é uma hipótese trabalhada pelo partido no momento, e que o próprio deputado teria se mostrado surpreso e desconfiado com as especulações.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Raphael Bruno)