Título: Grupo Gerdau avalia ajustes na produção
Autor: Karam, Rita ; Cigana, Caio
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/11/2008, Indústria, p. C7

6 de Novembro de 2008 - Os números superaram as expectativas de analistas, mas ao divulgar os resultados obtidos no terceiro trimestre deste ano, o diretor-presidente André Gerdau Johannpeter informou que o grupo siderúrgico Gerdau está avaliando cada uma das operações para definir ajustes que permitam adequar a produção ao novo patamar de demanda. Uma das áreas críticas é a de aços especiais que tem 70% das vendas atreladas ao setor automotivo e cujo esforço de vendas está partindo com mais força para a indústria naval, de energia e infra-estrutura que se mantém com melhor desempenho, afirmou Johannpeter ontem ao anunciar os resultados da companhia.

O empresário, entretanto, não deu maiores detalhes quanto a esses ajustes, disse apenas que serão avaliados quanto a cada operação e mercado. O grupo atua hoje em 14 países. O presidente da Gerdau informou também que os investimentos serão mantidos, mas poderão ter nova ordem de prioridade e novos prazos. Os gastos previstos nas operação até 2010 são de US$ 6,4 bilhões, sendo que destes US$ 1 bilhão já foi aplicado este ano.

Para o analista de siderurgia da corretora Geração Futuro, Carlos Kochenborger, a redução da produção da Gerdau no curto prazo deve ocorrer na Espanha e nos Estados Unidos. Na Espanha porque a controlada Sidenor produz principalmente aços especiais para a indústria automobilística, um dos setores mais afetados pela crise financeira global. "A Espanha é um grande fabricante de automóveis para exportação", destaca. Nos EUA a redução da atividade se deve ao alastramento da crise para além do setor da construção civil. A empresa antes alegava que tinha apenas 5% de suas vendas no mercado norte-americano ligada ao setor residencial, mas segundo Kochenborger, os problemas de restrição de crédito também estão afetando segmentos de infra-estrutura, maior mercado da Gerdau na América do Norte.

No Brasil a Gerdau ainda estaria em uma situação confortável. "Eles dão a entender que estão com a carteira de pedidos cheia para o último trimestre e início do ano que vem. Acho que em um período de três a seis meses não haverá redução de produção", conclui Kochenborger. O analista pondera que a Gerdau ainda teria uma vantagem em relação às concorrentes que estão anunciando corte de produção. Lembra que as usinas da companhia operam com fornos elétricos que utilizam principalmente sucata e ferro-gusa como matéria-prima, que podem continuar produzindo em níveis mais baixos de utilização sem causar prejuízo, ao contrário de outras empresas dependentes de minério de ferro e carvão que precisam desligar completamente os fornos.

Lucro maior

A siderúrgica, líder em aços longos, encerrou o trimestre passado com um lucro líquido de R$ 1,42 bilhão, aumento de 37,2% frente ao resultado apurado no terceiro trimestre de 2007.

A geração de caixa da Gerdau, medida pelo lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) somou R$ 3,841 bilhões, um aumento de 153,7% frente ao Ebitda do terceiro trimestre de 2007, que somou R$ 1,514 bilhão.

A chamada margem Ebitda, em termos consolidados, atingiu 30,9% no período, ante 19,8% no terceiro trimestre do ano passado.

A valorização do dólar frente ao real no trimestre passado, de 20,3%, gerou um resultado financeiro negativo de R$ 1,6 bilhão para a siderúrgica brasileira. O efeito da conversão de saldos da moeda estrangeira sobre pagamentos de exportações e dívidas em dólar foi negativo em R$ 1,1 bilhão no terceiro trimestre deste ano ante um efeito positivo de R$ 165,1 milhões no mesmo período de 2007, informou a empresa.

No exterior a siderúrgica brasileira mantém operações, por exemplo, no Canadá, Estados Unidos, Espanha, Colômbia, Peru, Chile, Argentina, Uruguai e México.

Até setembro, a produção de aço bruto das empresas Gerdau atingiu 5,6 milhões de toneladas, alta de 26,6% em relação ao volume registrado no mesmo período do ano passado. Na produção de laminados, houve alta de 23,7%, para 4,64 milhões de toneladas.

No Brasil, o aumento de produção de aço bruto foi de 17,8 %, enquanto as operações na América do Norte saltaram 35,6%. Em laminados, a produção brasileira subiu 17,7% e na América do Norte cresceu 28,5%.

Vendas aumentam 21%

As vendas consolidadas atingiram 5,1 milhões de toneladas no terceiro trimestre, um ganho de 21,3% em relação ao período de julho a setembro de 2007.

"A demanda nos diversos setores consumidores de aços longos no Brasil, tais como construção civil, automotivo e implementos agrícolas, continuou favorável no período, proporcionando um aumento de 32,9 % nas vendas da Gerdau no mercado doméstico", informou a empresa.

A receita líquida de vendas consolidada somou R$ 12,444 bilhões no período, um aumento de 62,4 % frente ao desempenho do terceiro trimestre do ano passado.

O vice-presidente de finanças da Gerdau, Osvaldo Schirmer, disse que, a Gerdau tem caixa próprio de mais de R$ 5,6 bilhões e ainda conta com linhas contratadas de financiamento de R$ 2,6 bilhões. "Nosso perfil de endividamento é superior a sete anos (...) o que é algo confortável com o compromisso, seja qual for a geração de caixa que tivermos", disse Schirmer.

As ações PN da companhia fecharam ontem a R$ 13,98, queda de 10,03%.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7)(Rita Karam, Caio Cigana e Reuters)