Título: Faturamento da indústria cresce 2%
Autor: Morais, Márcio de
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/11/2008, Nacional, p. A5

Brasília, 5 de Novembro de 2008 - Dados sobre atividade industrial relativos ao mês de setembro divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que a crise mundial ainda não chegou ao mercado brasileiro e que a geração de emprego continua em expansão, ao registrar o trigésimo mês consecutivo em alta.

Embora a crise financeira internacional tenha afetado bolsas e elevado o câmbio, a economia real manteve-se distante da turbulência que desvalorizou empresas e encareceu o dólar, permitindo um crescimento real de 2% no faturamento industrial de setembro sobre o mês de agosto e de 8% nos nove primeiros meses do ano, avaliou o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, em entrevista à imprensa realizada na seda da entidade em Brasília. Tal crescimento é explicado em boa parte pela evolução de 1,2% no número de horas trabalhadas entre agosto e setembro. Comparado ao ano anterior, o número de horas trabalhadas cresceu 9,6% em setembro, contra 3,2% em agosto. Setembro teve um dia útil a mais que agosto e três dias adicionais sobre setembro do ano passado.

A indústria trabalhou com 83,3% de sua capacidade instalada no mês de encerramento do terceiro trimestre, o que representa 0,3 ponto percentual acima do mês anterior. Para Castelo Branco, o bom desempenho está ligado ao "efeito calendário" (maior número de dias trabalhados).

Dos 19 segmentos pesquisados pela CNI, os que obtiveram melhor desempenho no faturamento no ano foram os de Máquinas e Equipamentos (crescimento de 18,8%), Veículos Automotores (23,2%) e Outros equipamentos de transporte (como helicópteros), com avanço de 32,3%. Os de Madeira, com queda de 10,5%, e de Produtos Químicos (queda de 8,8%) registraram os piores desempenhos da pesquisa.

Os setores que geraram mais empregos foram os de Máquinas e Equipamentos (crescimento de um ponto percentual) e Alimentos e bebidas (0,9 ponto percentual). O setor de Outros Equipamentos de Transporte registrou crescimento no emprego de 20%, o melhor de todos. Em situação inversa, os setores de Madeira (com redução de 12%), Vestuário (queda de 4,7%) e Material eletrônico de equipamentos de comunicação (redução de 1,6%) foram os que tiveram pior resultado na geração de emprego.

Recolhimento de impostos

A CNI acredita que o alongamento dos prazos para recolhimento de impostos, em estudos no governo, é a medida que falta para dar fôlego ao capital de giro das empresas e manter a liquidez do mercado. "O que promove o crescimento é o investimento", considerou Castelo Branco, ao defender o alongamento do prazo como forma de gerar capital de giro. Na média, os impostos são recolhidos em trinta dias, mas o faturamento só chega ao caixa da empresa em mais de 50 dias, o que exige disponibilidade de recursos para cumprir as obrigações fiscais.

"Estender o prazo é gerar capital de giro", simplificou. Castelo Branco citou o caso da Europa, onde o imposto semelhante ao nosso ICMS é recolhido no prazo de três meses, contra os 30 dias concedidos no Brasil. O ideal, para a CNI, é que haja um alongamento de pelo menos 15 dias no recolhimento de IPI, Cofins e ICMS. "A CNI acredita que isso vai manter as condições de liquidez (oferta de crédito) preservadas", ponderou.

As medidas para recomposição do crédito, como aumento do compulsório e aquisição de ativos, já anunciadas pelo governo, foram, no entanto, consideradas acertadas pela instituição de classe. Castelo Branco afirmou que os efeitos da crise só serão sentidos no país no início de 2009, pelo fato de que os investimentos realizados até setembro indicarem que a produção permanecerá aquecida até o Natal. "Grande parte da demanda do final de ano já está definida", avaliou, para explicar a previsibilidade do bom desempenho industrial no último trimestre deste ano. "Só vamos sentir (efeitos da crise) com a queda da demanda internacional por nossos produtos", acentuou, ao considerar o processo recessivo em andamento no mundo industrializado, que desacelera encomendas e o ritmo da produção.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Márcio de Morais)