Título: BC faz leilão para financiar exportações
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/11/2008, Nacional, p. A9

Brasília, 5 de Novembro de 2008 - O Banco Central (BC) vai facilitar recursos das reservas internacionais para financiar as exportações brasileiras. A decisão foi anunciada ontem pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, que garantiu que não haverá limite de liberação de dinheiro para essa operação. O primeiro leilão de empréstimo ocorre hoje e vai ofertar US$ 2 bilhões. Foi fixado limite de participação de 20% por instituição.

O BC havia lançado uma modalidade parecida de financiamento às exportações em outubro, mas pedia outro tipo de garantia: os global bonds, títulos brasileiros que circulam no exterior. A nova linha vai aceitar Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACCs) ou Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACEs) que torna mais fácil tomar os dólares, pois os contratos firmados entre os bancos e os exportadores servirão como garantia.

O mecanismo da nova modalidade de empréstimo contempla duas etapas. Na primeira fase, os bancos vão poder receber dólares do BC, dentro do já tradicional leilão de linha, ou seja, o leilão de venda de dólares pelo BC com compromisso de recompra. Para transformar a tomada de dólares de um simples leilão de linha em um empréstimo de maior prazo, os bancos terão de comprovar que transformaram essa captação de moeda estrangeira em linhas de financiamento ao comércio externo brasileiro. Desde que iniciou os leilões de linha, o BC movimentou cerca de US$ 6 bilhões. Segundo o governo, essas operações não afetam as reservas, pois são recursos que saem da conta do BC, mas obrigatoriamente retornam.

O primeiro leilão da nova modalidade de financiamento das exportações brasileiras ocorre hoje, com prazo de 30 dias para o leilão de linha, chegando a 180 dias para o total do empréstimo. Se no final da primeira fase da operação o banco não conseguir direcionar tudo o que obteve para o financiamento das exportações, devolve ao BC a parte que sobrou como em um leilão de linha normal. "A operação é muito importante porque visa regularizar o financiamento das exportações. Faz parte do conjunto de medidas que estão sendo adotadas visando proteger a economia brasileira", disse Henrique Meirelles.

"A operação vira um empréstimo cujas garantias são as operações cambiais que esses bancos contratarem", explicou o diretor de Política Monetária do BC, Mário Torós. Para os bancos, a tomada dos dólares terá como referência a taxa Libor, mais um spread a ser definido a cada leilão. O banco que oferecer melhor taxa sobre a Libor levará os recursos. Na primeira fase, em que a operação funciona como um leilão de linha, as garantias do BC para emprestar os dólares são os reais que os bancos comerciais vão ter de oferecer. Na segunda fase é que passam a ser exigidos os contratos de exportação.

O BC pode exigir apresentação de até 140% de contratos de exportação dados em garantia, de acordo com a classificação de risco do cliente. A parcela que vai até 100% do total das garantias é formada justamente pelos contratos de exportação firmados pelo banco. Acima desse patamar, isto é, os até 40% adicionais, serão exigidos em reais ou, neste primeiro leilão, em títulos públicos referenciados em reais. Nos próximos leilões, o BC pretende aceitar também outros ativos em moeda nacional, como carteiras de crédito. "Mas neste primeiro leilão, só aceitaremos títulos públicos", disse Torós, acrescentando que os tradicionais leilões de linha continuarão, sem competir com a nova modalidade.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Ayr Aliski)