Título: Para vencer, Tião Viana se aproxima de tucanos
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/11/2008, Política, p. A10
Brasília, 5 de Novembro de 2008 - A resistência do PMDB em chancelar o nome do senador Tião Viana (PT-AC) para suceder o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), fez o petista se aproximar de aliados nem um pouco tradicionais na Casa: os tucanos. Hoje, Tião Viana, que é o atual vice-presidente do Senado, deve discutir com o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) a troca de comando na Casa, que só ocorre em fevereiro de 2009. A aproximação, em um primeiro momento, pode parecer estranha, mas se justifica pelos laços políticos do tucano.
Papaléo Paes integrou os quadros do PMDB e é uma figura muito próxima ao senador José Sarney (PMDB-AP). O ex-presidente é apontado entre os peemedebistas como a primeira opção para comandar a Casa e passou a ser a aposta das bancadas do PSDB e do DEM para evitar a eleição de Tião Viana. A estratégia do petista é estabelecer uma interlocução por meio de Papaléo Paes com o grupo de José Sarney e do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que comandaria a rejeição a sua candidatura.
Aclamação
O senador petista quer saber se há de fato a intenção de José Sarney em comandar o Senado Federal e o que poderia oferecer em troca para a bancada do PMDB dar o aval e chegar fortalecido para a disputa. Ele acredita que a conversa sendo puxada por um tucano seria menos viciada do apelo peemedebista por uma candidatura própria. A interlocutores, José Sarney diz que aceita o cargo se for por aclamação, ou seja, sem uma disputa com outro senador. Conseguiu até um compromisso informal do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) - que sempre disse que compraria uma briga pela Presidência do Senado se Sarney fosse o escolhido do PMDB - de que o caminho estaria livre.
Com a esposa, dona Marly adoentada e cada vez mais dedicado à literatura, José Sarney, oficialmente, diz que não pensa mais em assumir a Casa, por causa do desgaste que a cadeira traz. Segundo petistas próximos a Tião Viana, mesmo se o nome lançado pelo PMDB for Sarney, o petista sustentaria a candidatura.
"Agora, seria um erro voltar atrás", diz um petista que pediu para não ser identificado. "Seria fortalecer Renan Calheiros e deixar o PMDB livre para ditar as cartas no Senado Federal", completa o petista.
Além de José Sarney, os peemedebistas ainda estudam outros nomes, como o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que pode desembarcar em janeiro no Senado, e o da líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), que contaria com a benção do Palácio do Planalto. Há ainda outros senadores que articulam candidatura própria, como o senador Mão Santa (PMDB-PI).
Independentes
No tabuleiro político imaginado pelos senadores petistas, nem mesmo os possíveis obstáculos na bancada do PMDB intimidam. Eles avaliam que Tião Viana teria o apoio de parlamentares independentes, como Tasso Jereissati (PSDB-CE), Demóstenes Torres (DEM-GO) e Jarbas Vascon-celos (PMDB-PE), que podem, para alívio do PT, começar a cooptar votos em nome da recuperação da imagem da Casa, desgatada depois das denúncias de que Renan Calheiros, então presidente do Congresso, teria tido despesas particulares pagas por uma empreiteira.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Márcio Falcão)