Título: Itaú-Unibanco já começa a definir estratégia internacional
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Fonte: Gazeta Mercantil, 05/11/2008, Finanças, p. B1
São Paulo, 5 de Novembro de 2008 - O Itaú-Unibanco Holding, que surge da fusão das operações do Banco Itaú Holding Financeira com o Unibanco, já começa a traçar alguns de seus passos de crescimento no mercado internacional. A instituição não esconde que almeja ser uma competitiva multinacional brasileira do setor financeiro e deverá iniciar seu fortalecimento lá fora inicialmente pela América Latina, onde o Itaú já tem presença no varejo argentino, uruguaio e chileno. "É uma área preferencial natural, mas não descartamos avançar em outras regiões", disse ontem Roberto Egydio Setubal, presidente do Banco Itaú e que assume a presidência executiva do Itaú-Unibanco, em conferência com analistas do mercado.
Conforme Setubal, a companhia analisa ampliar a presença no Chile e estuda cuidadosamente o cenário macroeconômico e político da Colômbia e Peru que, vêm crescendo e ficando bastante atrativo. "O México é outro mercado interessante que estamos avaliando com cuidado", afirmou Setubal, observando, contudo, que ainda não existe um plano completamente definido sobre quais mercados explorar e com quais produtos. A empresa, acrescentou, pode optar por comprar operações de varejo, se fortalecer no private banking -tem operações na Europa, por meio do Itaú Europa - e estender a atuação no segmento de cartão de crédito, um produto de mais fácil colocação no mercado. O balanço auditado do Itaú, divulgado também ontem, mostra que suas operações de crédito na Argentina, Chile e Uruguai cresceram 34,6% nos últimos 12 meses e 18,7% sobre junho, para R$ 10,98 bilhões em setembro, respondendo por 6,7% do total da carteira.
Unibanco pressionado
Pedro Moreira Salles, presidente do Unibanco e agora presidente do conselho do novo grupo, reconheceu ontem, na mesma conferência, que seria muito difícil para o banco controlado pela sua família explorar o mercado internacional. "Nossa meta era crescer no País por meio da melhora do patrimônio. Não tínhamos escala para olhar para fora, ao mesmo tempo em que sempre olhamos com estranheza a falta de uma multinacional do setor com sede no Brasil, o que será possível agora com essa extraordinária aglutinação de talentos."
Segundo fontes do mercado que preferem não se identificar, com a crise de liquidez e a falta de confiança nos mercados, resultado do agravamento da turbulência financeira mundial, nos últimos dias o Unibanco não poderia pensar em crescer nem mesmo no Brasil, penalizado por perdas de clientes e de depósitos, em virtude também dos boatos de que seu desempenho teria sido afetado seriamente por operações com derivativos cambiais exóticos. "Nesse mercado, boato vira fato porque os clientes ficam preocupados e começam a sacar, interromper negócios. O banco estava se deteriorando", disse uma fonte, citando ainda que prejudicou também a instituição o fato de ser no País braço da AIG, socorrida pelo governo norte-americano antes de ir à bancarrota completa, e não ter um plano sucessório definido.
Os especialistas afirmam também que o espanhol Santander não está aqui a passeio e vem usando de fortes estratégia para aumentar sua fatia no mercado, pressionando ainda mais os líderes de mercado.
Salles e Setubal, no entanto, reafirmaram que a fusão vinha sendo planejada há 15 meses. Quando questionados porque somente agora foi anunciada, Salles respondeu: "Porque não agora?", perguntou, completando que foi o momento em que chegaram aos vários entendimentos e que fazer isso agora demonstrava o conforto na construção de uma plataforma absolutamente competitiva. Apesar de afirmarem que as duas empresas vão sempre votar juntas, em acordo de cavalheiros, não há cláusula contratual estabelecendo como fica a resolução de conflitos, se ocorrerem. Segundo os analistas, neste caso, poderá prevalecer a decisão do Itaú, que tem a maior fatia do novo banco. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Iolanda Nascimento)