Título: Lula diz que o pior já passou, mas cria gabinete de crise
Autor: Correia, Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/11/2008, Política, p. A9
Brasília, 7 de Novembro de 2008 - O tom otimista adotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva frente à crise econômica mundial - politicamente conveniente em tempos de eleições municipais -- foi mantido ontem diante da platéia na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social deste ano. Mas o incômodo do governo com a demora das medidas anunciadas para conter os efeitos da turbulência nos mercados internacionais também ficou claro.
Preocupado com o peso de um insucesso na condução da economia real - suporte dos recordes de avaliação positiva de sua gestão, nas pesquisas de opinião - o presidente Lula anunciou ontem a criação de uma espécie de gabinete de crise com a missão de acelerar o andamento das medidas que pretendem aumentar o volume de crédito na economia do País. "A verdade é que a máquina está preparada para funcionar num processo de normalidade, mas quando estamos vivendo um processo de anormalidade, nós precisamos colocar um pouco mais de óleo nessa máquina para que ela possa fluir com um pouco mais de rapidez", justificou Lula aos empresários reunidos no Planalto.
Quebrar a cara
Apesar da equipe econômica do governo já ter reduzido suas previsões de crescimento da economia, o presidente Lula insistiu que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vai crescer "acima do esperado". "Quem está apostando em crescimento muito baixo em 2009 pode quebrar a cara, os analistas que tomem cuidado", disse Lula, aproveitando para responder críticas ao tom ameno com que vem tratando a crise - já chamada de "marolinha" pelo presidente - desde o início da onda que varreu as bolsas de valores em todo o mundo. Para Lula, o pior da crise já passou e o impacto sofrido pelo Brasil não foi tão forte como em outros países porque o governo teria feito a "lição de casa" e tomado as medidas necessárias para que a economia brasileira se mantivesse estável frente à escassez de crédito. Mantendo o tom de otimismo, o presidente disse que vai continuar a estimular o consumo interno. "Se a gente permitir que por medo as pessoas deixem de comprar a sua casinha, que por medo a pessoa não queira utilizar o primeiro sutiã (...) se a gente permitir que o pânico tome conta da sociedade, o que vai acontecer", disse Lula.
Para o presidente, os maiores problemas provocados pela crise, em território nacional, foram causados por empresas que apostaram contra o Real no mercado, ao firmar contratos de derivativos. "Eu não contava que empresas brasileiras estivessem apostando da forma que algumas tentaram apostar, agindo como se fossem adolescentes, não contaram para a gente de uma vez, foram contando aos pouquinhos", disparou Lula.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Karla Correia)