Título: FMI revisa para baixo as estimativas feitas há um mês
Autor: Hessel, Rosana ; Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/11/2008, Internacional, p. A11

7 de Novembro de 2008 - O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou ontem para baixo a taxa de crescimento das principais economias desenvolvidas e emergentes do globo apenas um mês depois da divulgação do seu relatório semestral Panorama Econômico Mundial, o mais importante conjunto de análises estatísticas das economias globais feita pela instituição divulgado há um mês em Washington durante o encontro de outono (do Hemisfério Norte) do FMI com o Banco Mundial (Bird).

Desde 2007, o Fundo costuma fazer atualizações das previsões trimestralmente. Mas esta revisão mensal, apesar de surpreender os especialistas, não chegou a causar alvoroço uma vez que a volatilidade dos mercados tem exigido uma correção das previsões em um espaço de tempo mais curto. Não é a primeira vez que a instituição se utiliza desse mecanismo, pois já fez o mesmo em crises anteriores. Entretanto, não significa que se irá fazer atualizações mensais, informou uma fonte ligada ao FMI.

"Previsões trimestrais marcam uma normalidade do mercado, mas os acontecimentos de agosto, setembro e outubro foram de profunda anormalidade, que não era vista desde 1929", comenta o economista Paulo Sandroni e professor da FGV-SP. Ele considera natural que o FMI recorra a esse procedimento, apesar de ele também ter se surpreendido com o fato.

O professor de Economia da ESPM, Frederico Turolla, também ficou surpreso com as revisões do FMI, mas ele acha que o mercado não se surpreendeu pois não houve interrupções dos pregões das Bolsas. "A fase pânico já passou. O mercado está mais realista em função do crescimento menor e o FMI apenas está se ajustando a essas expectativas."

O Fundo corrigiu para baixo a taxa de crescimento global do Produto Interno Bruto (PIB) para 2008 e para 2009, para 3,7% e 2,2%, com taxas de correção, respectivamente, de 0,2 e 0,8 ponto percentual negativos. "É a primeira contração anual desde o pós-guerra, embora a queda seja comparável em magnitude às registradas em 1975 e 1982", informa o relatório.

Para Sandroni, essa redução nas previsões de expansão do PIB para todas as economias é a confirmação do fato de que "o mundo já se encontra em recessão" e o Brasil está perto de uma estagnação. "O que está havendo é uma ajuste normal dos fatos e agora há mais realismo nas previsões", afirma. O Fundo reduziu em 0,5 ponto a estimativa de crescimento do PIB brasileiro em 2009, para 3%. "Temos de nos preocupar agora em evitar para não entrarmos em uma depressão", diz ele, explicando que a depressão poderá ocorrer se houver uma taxa negativa de 10 % a 15%.

O relatório do FMI prevê também contração da economia dos países ricos, a primeira desde 1945. Segundo o levantamento, os mercados entraram em um círculo vicioso de desalavancagem de ativos, queda de preços e resgates por parte dos investidores.

"Na Europa, já estamos falando em recessão. Nos Estados Unidos, não dá ainda para caracterizar como recessão, mas dá para apostar que ela vem", analisa o economista da Austin Rating Nelson Carneiro. A previsão da agência de risco é mais otimista para os EUA, de crescimento de 0,1% em 2009, pois leva em consideração o anúncio de mais dois pacotes fiscais para empresas e consumidores. Para economia mundial, a Austin prevê uma expansão de 3% no próximo ano.

As maiores taxas de correção para baixo do FMI situaram-se nos países da Ásia e do Leste Europeu, principalmente, nos países da antiga União Soviética. "Esses países têm suas economias dependentes do petróleo, que já teve uma forte queda nos últimos meses, e por isso as correções são pertinentes", avalia Sandroni.

As revisões do FMI ocorreram na véspera da reunião dos ministros e presidentes de bancos centrais do G20 que começa hoje e vai até domingo em São Paulo.

O diretor geral do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, chega hoje à capital paulista para participar do encontro dando sinais de que o momento exige uma mobilização coordenada. Segundo ele, os países emergentes serão as próximas vítimas da crise financeira internacional que começou nos EUA e se estendeu para a Europa ocidental.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Rosana Hessel e Ana Carolina Saito - com agências internacionais )