Título: Vale poderá renegociar contrato
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/11/2008, Indústria, p. C5
Rio de Janeiro, 7 de Novembro de 2008 - O cenário da economia mundial mudou tanto nas últimas semanas que a questão do preço do minério de ferro, tradicionalmente defendida com unhas e dentes pela Companhia Vale no Rio Doce (Vale), foi deixada de lado, pelo menos momentaneamente. A preocupação agora é manter os contratos de longo prazo que já foram assinados com as siderúrgicas, que estão cortando produção de aço e, por tabela, revendo as encomendas das mineradoras. O presidente da Vale, Roger Agnelli, sinalizou que terá de renegociar o maior contrato de venda de minério que a empresa possui atualmente.
"Esse negócio de contrato é o seguinte: minério não é coisa simples não, o volume é muito grande. A ArcelorMittal está reduzindo produção em um ritmo fortíssimo. Como é que eu vou querer que eles honrem contrato. Tem um contrato, um volume acertado e onde é que ele vai por (o volume)? Ele (Arcelor Mittal) não tem onde pôr. Então também temos que entender o seguinte, que tem um problema do lado de lá e a gente tem que respeitar", disse o executivo, ao ser indagado sobre cortes de produção da maior siderúrgica do mundo. A ArcelorMittal está cortando 30% da produção por causa do desaquacimento da demanda por produtos siderúrgicos.
Agnelli afirmou que a redução de 10% na produção de minério de ferro é suficiente para manter o equilíbrio da empresa. Não é preciso aumentar os cortes, pelo menos por enquanto. Depois anunciar a diminuição de 30 milhões de toneladas anuais do insumo na sexta-feira passada, o executivo admitiu um recuo na batalha por reajuste na segunda-feira. E ontem indicou que ajustes nos preços podem não acontecer nem para os contratos de 2009, porque, segundo ele, essa questão "não é nada" em relação ao que está acontecendo no mercado.
Indagado sobre como ficarão os preços nesta crise, Agnelli respondeu: "Não sei. Eu pergunto para os meus clientes: ""quando vocês acham que vai melhorar?"". Mas eles não sabem. ""Quanto vocês acham que o volume deve crescer?"" Eles não sabem. ""E preço?"" Eles não sabem. A questão de preço não é nada", revelou, após participar de um evento de moda no Forte de Copacabana, no Rio."A questão toda é a seguinte: não tem mercado. Hoje, baixar o preço do minério de ferro não se acrescenta uma tonelada só vendida. E o problema não é preço. O problema é demanda", acrescentou. O discurso é completamente diferente do que estava sendo defendido até pouco tempo atrás. A Vale até poucas semanas insistia no reajuste com os chineses.
Sobre as metas de vendas para o próximo ano, Agnelli não descartou uma revisão. Pelo contrário, os estoques das siderúrgicas podem atrapalhar a retomada do ritmo de produção, segundo a metáfora: "Se você tem um monte de arroz e feijão na sua casa e você está de regime, você vai ao supermercado?".
Apesar das perspectivas sombrias, Agnelli disse que o País vai sair mais forte da crise financeira. A Vale pediu às agências de classificação de risco, que elevem as notas da mineradora, em torno hoje de BB+. "Queremos AAA". E elogiou o presidente Lula, comparando-o ao presidente eleito dos estados Unidos Barakc Obama. "Vamos falar do nosso Lula; ele já tem isso tudo (que o Obama busca). Se vem Obama ou não pouco importa. O fato é que o País está bem e a gente que está entrando nessa crise forte e vai sair mais forte", concluiu.
Agnelli prevê o fim da crise financeira no segundo trimestre de 2009. A partir daí, segundo ele, a demanda por minerais voltará a crescer. "Alguns acham que a crise pode durar dois anos. Eu acho que os próximos três ou quatro meses terão uma intensidade fortíssima, e a recuperação poderá vir no segundo trimestre de 2009."
A Vale concedeu férias coletivas para mais de dois mil funcionários. O descanso pode durar de 15 a 20 dias, dependendo do lugar. De acordo com a Vale, a empresa pode segurar a produção porque não precisa correr para colocar dinheiro em caixa já que está capitalizada.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 5)(Sabrina Lorenzi)