Título: Ritmo de importação começa a dar sinais de desaceleração
Autor: Salgueiro,Sônia
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/11/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 11 de Novembro de 2008 - O transporte aéreo tem uma participação muito modesta nas importações brasileiras - de janeiro a setembro, respondeu por 19,7% do valor importado e por 0,2% do volume de mercadorias que ingressaram no País -, mas seu comportamento pode sinalizar tendências que a balança comercial ainda não detecta.

Apesar de as compras do exterior continuarem em linha ascendente, como mostram os dados mais recentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o movimento na Lufthansa Cargo, empresa que tem oito freqüências semanais regulares para o Brasil, começa a estacionar. "Os vôos continuam chegando cheios, mas, com o desencadeamento da crise, há menos pressão por capacidade adicional", afirma Cleverton Hotz Vighy, gerente regional Brasil da companhia de origem alemã.

O executivo conta que a demanda aquecida fez a empresa aérea elevar em 25% a 30% a oferta de espaço desde o ano passado. Ainda assim, os cargueiros continuaram pousando com 100% de ocupação e vôos extras - cada um com capacidade para 80 a 100 toneladas - tiveram que ser providenciados. "Em agosto e setembro disponibilizamos de um a dois vôos extras por mês e, era só anunciar no sistema que em um dia o avião estava cheio", relembra Vighy. Em outubro, o vôo extra programado ficou uma semana disponível no sistema até lotar. "Isso indica uma pequena retração de demanda", afirma o gerente da Lufthansa Cargo.

Por causa dessa mudança de cenário, a empresa não programou vôos extras para este mês, o que significará no mínimo 80 toneladas a menos de mercadorias entrando no País em relação a agosto, setembro e outubro. Mas os vôos regulares da companhia seguem cheios. Vighy acha que uma explicação para isso é que a empresa transporta principalmente insumos. "De 60% a 70% de nossas importações são de matérias-primas das indústrias automotiva, de telecomunicações e eletroeletrônica."

O que se nota é que, por enquanto, empresas que dependem de insumos estrangeiros pouco alteraram seu fluxo com o exterior ou adiaram o desembaraço de bens importados, um estratagema bastante utilizado quando o câmbio oscila muito. O dólar iniciou o mês de outubro valendo R$ 1,92, atingiu seu ápice no dia 22 (R$ 2,38), voltou a cair para R$ 2,10 no encerramento do mês e ontem estava cotado a R$ 2,18. "Como os tributos são pagos pela taxa do dia, muita gente prefere adiar o desembaraço", afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Portos secos

Os portos secos, depósitos alfandegados localizados fora dos portos ou aeroportos, notaram um aumento de até 50% no período de armazenagem de mercadorias estrangeiras, segundo João Russo, diretor executivo da Associação Brasileira dos Portos Secos (Abepra). "Os clientes fazem contas para ver se vale à pena pagar um período adicional ou nacionalizar a mercadoria", diz Russo.

Segundo ele, metade dos produtos importados desembarcam no País em contêineres, sendo que 30% deles passam pelos portos secos. A maior permanência, destaca o presidente da entidade, Ricardo Vega, não se aplica a todo e qualquer bem importado. "São normalmente os itens de maior valor e os produtos acabados que estão ficando mais tempo nos portos secos", diz.

Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), que reúne as empresas detentoras ou administradoras de terminais portuários, afirma que várias empresas estão nacionalizando as mercadorias aos poucos. "Elas estão tirando os produtos a conta-gotas, quando o dólar baixa."

Esse comportamento é observado na Multiterminais, que opera portos secos nas cidades de Resende e do Rio de Janeiro, no Estado do Rio, e Juiz de Fora (MG). Segundo Ricardo Vega, que, além de dirigente da Abepra, é diretor de logística da companhia, há maior procura pelo regime de entreposto aduaneiro, que permite ao importador nacionalizar a mercadoria aos poucos num prazo de dois anos, prorrogáveis por mais um ano - no regime aduaneiro comum a nacionalização ocorre de uma vez, em até 120 dias.

"As consultas sobre o regime de entreposto aduaneiro aumentaram de 15% a 20%", diz, acrescentando que o uso desse regime subiu de 5% a 10% de outubro para cá.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Sônia Salgueiro)