Título: Crise não altera metas do PDP, diz ministro
Autor: Monteiro,Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/11/2008, Nacional, p. A5
Brasília, 11 de Novembro de 2008 - O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, mantém a estimativa de que a política industrial alcance taxa de investimento fixo de 21% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2010 e que o País tenha uma participação de 1,25% no total das exportações mundiais, o que corresponde a US$ 208,8 bilhões, mesmo diante das perspectivas de desaceleração da economia mundial. Mas representantes da iniciativa privada reclamam que o programa não decola.
O ministro afirma que os investimentos estrangeiros estão sendo realizados por meio dos incentivos da chamada Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada pelo governo em maio deste ano. "A política industrial está indo muito bem, as desonerações tributárias dos setores estão acontecendo", disse o ministro à Gazeta Mercantil.
Entretanto, os exportadores afirmam que a política industrial até agora não surtiu efeito sobre as exportações brasileiras. O Drawback Verde-Amarelo - que permite desonerar alguns tributos para a compra de insumos nacionais destinados à produção de bens exportáveis -, por exemplo, começou a vigorar apenas em 1º de outubro, ou seja, quase um mês depois do agravamento da crise mundial, com a quebra do banco Lehman Brothers, no dia 15 de setembro, nos Estados Unidos.
"Não deu tempo para acontecer nada", afirmou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que considera que as medidas vieram tarde demais. Segundo ele, as medidas foram implantadas quando a crise financeira mundial começou a piorar, derrubando as expectativas de consumo mundial. E, mesmo com os incentivos concedidos pelo governo na PDP, os exportadores de produtos industrializados não conseguiram ampliar seus embarques por causa da queda da demanda mundial.
"O governo errou na escolha do momento mais adequado para a implantação da política industrial e, por isso, ela deverá encontrar buracos durante seu percurso (até 2010)", complementou. Conforme Castro, tal programa deveria ter sido implementado há três anos, quando as exportações mundiais estavam a todo vapor, para beneficiar as vendas dos produtos industrializados nacionais. "Hoje o câmbio é favorável para a exportação, mas o cenário não ajuda, porque há redução da demanda mundial", acrescenta.
A política industrial também busca reduzir os custos dos investimentos nas linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O ministro Miguel Jorge informou que no setor da indústria naval já existem quatro estaleiros funcionando no País com os incentivos da política industrial, sem citar os nomes das empresas. O ministro disse que uma linha de montagem de locomotivas de médio e grande portes da General Electric será instalada em Minas Gerais, onde a empresa já possui fábrica. Destacou a implantação de uma fábrica de helicóptero da Helibrás, de capital brasileiro e francês, em Itajubá (MG). Ao todo, a política deverá beneficiar mais de 20 setores econômicos.
Seguindo o tom otimista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prega que o pior da crise já passou, o ministro mantém a expectativa na PDP. Dentre as metas, está a de alcançar taxa de investimento fixo de 21% do PIB até 2010 - ocasião em que os investimentos deverão chegar a R$ 251,6 bilhões. O outro alvo da PDP é fazer com que o Brasil tenha uma participação de 1,25% do total das exportações mundiais.
O vice-presidente da AEB avalia ser difícil que os objetivos da nova política industrial sejam alcançados até 2010, diante da piora do cenário econômico mundial. "A tendência é que as metas não sejam atingidas, porque o cenário mudou bastante. E, mesmo que o cenário melhore até 2010, o mundo não tem estrutura para voltar ao que era no passado", opina Castro.
Ele acredita que a receita das exportações brasileiras deve alcançar a meta de US$ 202 bilhões neste ano, graças à bolha nos preços das commodities na primeira metade de 2008. Por essa razão, Castro vê a possibilidade de o Brasil atingir neste ano a meta de 1,25% do comércio mundial. O vice-presidente da AEB descarta, entretanto, a hipótese de o desempenho se repetir em 2009 e 2010, já que tanto as cotações dos produtos básicos como a demanda mundial estão em baixa.
No ano passado, as exportações brasileiras representaram 1,18% do total no mundo, ou US$ 160,6 bilhões.
Castro estima que no próximo ano as vendas externas do Brasil devem cair, no mínimo, US$ 20 bilhões - considerando apenas a redução das cotações das commodities - e reforça que o Brasil não conseguirá recuperar os embarques em 2010. Por essa razão, avalia, será difícil o País alcançar a meta de a participação de 1,25% no comércio mundial em dois anos.
"Até 2010 teríamos que ter aumento de preço das commodities e, mesmo que as cotações voltem a subir, elas não devem recuperar os patamares anteriores, quando os preços das soja e do petróleo subiram mais de 100%", recorda. Na ocasião, os preços desses itens subiram por conta da especulação nas bolsas de valores e pela redução da produção mundial. "Nesta previsão eu nem estou considerando a queda da quantidade exportada", alertou.
Para o ministro Miguel Jorge, a projeção da AEB é precipitada. "É bastante prematuro fazer uma previsão dessa ordem com tanta segurança", ponderou o ministro. O dirigente da AEB rebateu o ministro, comentando que "é claro que o ministro tem que ser otimista em suas análises".
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Viviane Monteiro)