Título: Brasil sofre crise de liquidez, diz Meirelles
Autor: Góes,Ana Cristina
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/11/2008, Finanças, p. B1
São Paulo, 11 de Novembro de 2008 - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, distinguiu ontem a situação do Brasil da dos países desenvolvidos nesta crise atual: "A crise no Brasil é uma crise de liquidez. Para retomar a liquidez em dólar, o BC está fazendo leilões e para retomar a liquidez em reais está liberando os compulsórios", explicou. Nos países desenvolvidos, onde a crise teve início, o governo está envolvido diretamente na ajuda financeira aos bancos.
O chefe da autoridade monetária destacou que, por intermédio dos canais de crédito, a crise atingiu os países emergentes criando volatilidade no mercado cambial, principalmente após a falência do banco norte-americano de investimentos Lehman Brothers.
Meirelles disse que cabe a cada país adotar a política fiscal mais adequada para a sua situação econômica, afirmação que segue o mesmo tom do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet.
"Os países que dependem muito de exportações para os Estados Unidos e Europa serão muito afetados e devem adotar medidas para incentivar o consumo doméstico. Este não é o caso do Brasil. Nos países com problemas de crédito muito graves o governo tem comprado ativos das instituições financeiras. Este também não é o caso do Brasil. A crise no Brasil é de liquidez", declarou.
Quando questionado sobre qual a política fiscal mais adequada para o Brasil, em um momento em que os principais bancos centrais do mundo estão promovendo cortes nas taxas básicas de juros, Meirelles saiu pela tangente. "A política fiscal mais adequada está na ata do Copom", despistou.
O presidente do BC voltou a afirmar que o País está em condições relativamente melhores do que outros de enfrentar a crise financeira. "As reservas internacionais estão elevadas e a dívida pública em relação ao PIB é cadente", lembrou Meirelles.
Um dia depois do governo chinês ter anunciado um pacote no valor de US$ 586 bilhões para estimular a economia, Meirelles negou que o Brasil precise de um pacote. "Já temos um pacote, que é o Pacote de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele já foi anunciado pelo presidente Lula, pela Fazenda e pelo Planejamento. Se houver intenção de fazer algo diferente haverá um comunicado", disse.
A economia mundial vai desacelerar substancialmente em 2009, destacou Meirelles, sobre o consenso que os 40 presidentes de bancos centrais de todo o mundo chegaram no encontro bimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) realizado pela primeira vez em São Paulo.
Segundo Meirelles, os países industrializados devem ter contração no Produto Interno Bruto (PIB) já no próximo ano, enquanto os países emergentes devem continuar a crescer, mas a taxas menores.
Sobre possíveis fusões no setor bancário brasileiro, como a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, Meirelles desconversou. "Não existe propostas de fusões ou compras de bancos e instituições financeiras, a não ser aquelas que já foram anunciadas formalmente", afirmou.
O presidente do BC não perdeu a chance de reforçar o regime de metas de inflação. "A meta para o próximo ano é 4,5%", afirmou Meirelles. Apesar da expectativa do BC, o boletim Focus mostrou que o mercado espera que a inflação encerre o ano em 6,40%, muito próxima do teto da meta de 6,5%. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ana Cristina Góes)