Título: Fed nega-se a identificar bancos tomadores de dinheiro público
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Fonte: Gazeta Mercantil, 11/11/2008, Finanças, p. B1

Nova York, 11 de Novembro de 2008 - O Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) está se recusando a identificar os bancos que receberam quase US$ 2 trilhões em empréstimos emergenciais de dinheiro público e também os ativos problemáticos que está aceitando como garantia.

O presidente do Fed, Ben Bernanke, e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, disseram em setembro que cumpririam as exigências do Congresso de transparência em relação ao socorro de US$ 700 bilhões prestado ao sistema bancário. Dois meses depois, quando o Fed está emprestando muito mais do que aquele valor, por meio de outros programas de resgate para os quais não foi necessária a aprovação do Congresso, os contribuintes norte-americanos não têm idéia de para onde seu dinheiro está indo ou quais as garantias estão sendo prometidas pelos bancos.

"As garantias não estão sendo adequadamente reveladas e isso é um grande problema""", disse Dan Fuss, vice-presidente da Loomis Sayles. "Em um mercado com liquidez, isso não importaria, mas essa não é a situação em que nos encontramos. O mercado está muito nervoso e muito rarefeito", acrescentou Fuss, co-gestor de US$ 17 bilhões em bônus.

O Fed fez esses empréstimos segundo as condições de 11 programas, oito deles criados nos últimos 15 meses, no meio da maior crise financeira desde a Grande Depressão, iniciada em 1929.

"É o seu dinheiro; não é o dinheiro do Fed", disse o bilionário Ted Forstmann, sócio sênior da Forstmann Little. "É claro que deveria haver transparência."

A porta-voz do Federal Reserve, Michelle Smith, se recusou a fazer comentários sobre os empréstimos. A porta-voz do Departamento do Tesouro, Michele Davis, não respondeu a um telefonema e a um e-mail pedindo comentários.

US$ 2 Trilhões

O total dos empréstimos feitos pelo Fed ultrapassou, pela primeira vez, US$ 2 trilhões na semana passada, e cresceu 140%, ou US$ 1,172 trilhão, nas sete semanas desde que os diretores da autoridade monetária relaxaram os padrões para as garantias, em 14 de setembro. A diferença inclui uma alta de US$ 788 bilhões em empréstimos a bancos, por meio do Fed, e US$ 474 bilhões de outros empréstimos, a maioria por compra, pelo banco central, dos bônus das empresas de financiamento de imóveis residenciais Fannie Mae e da Freddie Mac.

Em uma audiência na Comissão de Bancos do Senado em 23 de setembro em Washington, Paulson defendeu a transparência na compra de ativos problemáticos, por meio do programa de salvamento aprovado pelo Congresso norte-americano.

"Precisamos de supervisão", disse Paulson. "Precisamos de proteção, precisamos de transparência. Queremos isso. Todos nós queremos isso."

Em uma audiência conjunta da Câmara e do Senado no dia seguinte, Bernanke também enfatizou a importância da acesso aos dados dentro do programa. "A transparência é uma grande questão", disse ele.

O Fed emprestou dinheiro e títulos do governo aos bancos, que entregaram ao BC garantias em forma de ações e outros títulos, inclusive papéis vinculados ao crédito de alto risco (subprime) e estruturados, como obrigações da dívida colateralizada (CDOs), segundo o site do Fed. Entre os tomadores estão o Lehman Brothers Holdings, que posteriormente quebrou, o Citigroup e o JPMorgan Chase.

Os bancos se opõem à divulgação de informação, porque isso pode sinalizar fraqueza e desencadear vendas a descoberto ou uma corrida às contas, disse Scott Talbott, vice-presidente-sênior para assuntos do governo da Financial Services Roundtable, representante de cem das maiores empresas do setor bancário, sediada em Washington.

"É preciso equilibrar a necessidade de transparência com a proteção do interesse público", disse Talbott. "Os contribuintes têm o direito de saber para onde vão os dólares dos seus impostos, mas uma informação isolada pode minar a confiança do público no sistema."

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Bloomberg News)