Título: Economia terá R$ 78 bi com 13º- salário
Autor: Saito,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/11/2008, Nacional, p. A7

12 de Novembro de 2008 - Pelo menos 68,2 milhões de pessoas, entre trabalhadores formais, pensionistas e aposentados, vão contar até o final do ano com dinheiro a mais no bolso. O pagamento do 13 salário deve injetar cerca de R$ 78 bilhões na economia brasileira neste ano, o que representa 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo estimativas do Departamento de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com dívidas já contraídas e de olho nos desdobramentos da crise financeira, o brasileiro, no entanto, não irá às compras com o mesmo entusiasmo registrado em 2007.

O levantamento considera os recursos do 13 que entram na economia ao longo do ano. O Dieese estima, entretanto, que de 60% a 70% dos pagamentos entrem nos dois últimos meses do ano. O montante projetado para 2008 supera em cerca de 20% o valor do ano passado, de aproximadamente R$ 64 bilhões. O valor médio pago a ser pago a título de 13 é de R$ 1.105, contra R$ 920,00 em 2007.

Para o coordenador do Dieese, José Silvestre de Oliveira, a maior parte dos recursos deve ser destinada ao pagamento de dívidas e ao consumo. "A parcela gasta no comércio deve aumentar, porque o montante também aumento. No momento não há razão para dizer que o Natal vai ser magro."

Segundo pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), de cada 10 consumidores, 6 devem usar parte do 13 para o pagamento de dívidas já contraídas, aumento de 3,45% sobre 2007. Mais da metade têm dívidas contraídas no cheque especial e no cartão de crédito.

Ao mesmo tempo, o número de consumidores que pretendem usar o 13º para a compra de presentes caiu 25%, de 20% para 15% do total entre 2007 e 2008. "A crise já está batendo na intenção de gasto do consumidor", afirma o vice-presidente da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira.

Segundo o levantamento, houve uma redução significativa nos gastos em valores maiores. O percentual de consumidores que pretendiam gastar no Natal até R$ 500,00 avançou de 55% em 2007 para 63% neste ano. A parcela que pretende desembolsar até R$ 100,00 avançou 30%, para 13%, enquanto a intenção de gastos acima de R$ 5.000,00 caiu 66,67%, chegando a 1%. "Isso pode mostrar a preocupação em se endividar, mas mostra também a maior restrição a obtenção de crédito."

O economista Altamiro Carvalho, da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) avalia que a cautela será o traço dominante no comportamento que irá nortear o mercado em dezembro. As mudanças no cenário econômico dos últimos meses, marcado pelo aumento das restrições ao crédito e redução de prazos de financiamento, levaram a uma revisão das projeções da entidade. A Fecomércio alterou a estimativa de crescimento de 3% nas vendas de final de ano. Para Carvalho, a expansão não irá além da faixa de 0 a 1%.

Segundo o economista, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) medido pela Fecomércio, registrou uma variação negativa de 4,5% e fechou em 132,6 pontos em novembro em comparado com outubro. Este resultado revela uma alteração de humor nos consumidores em razão da turbulência internacional e seu impacto na economia. "O consumidor está mais cauteloso à medida que a crise avança e o ICC mostrou isso nos dois últimos meses", afirmou Carvalho.

O crescimento da massa salarial deverá resultar em um volume maior de recursos pagos no 13º salário. "Isso pode compensar as restrições de acesso ao crédito", na avaliação de Carvalho.

Para o economista, pelo menos metade do volume total pago na forma de 13º salário será destinada a quitação de dívidas, gastos com férias e matrículas escolares. Outra parcela, cerca de 10% do total, foi liberado para o consumo ao longo do ano por meio de pagamentos antecipados e negociações com bancos, que adiantam o valor previsto para o salário extra. Apesar destes fatores, perto de R$ 30 bilhões estarão disponíveis para consumo em dezembro e janeiro.Carvalho não acredita que ocorrerá um aumento de preços neste período. Segundo ele, os estoques foram fechados em setembro e os preços estão pactuados e não devem sofrer alteração.

Para Geraldo Monteiro, diretor de operações do Extra São Paulo, a programação de Natal de será mantida. "Ainda não percebemos a crise. O desempenho da rede, do Grupo Pão de Açúcar, em relação ao ano passado vem acima das metas", diz. A rede de supermercados manteve prazos de financiamento, que variam de 15 a 24 meses. Segundo ele, as vendas apresentaram recuo na área de alimentos e não foi registrada nenhuma alteração no movimento de produtos eletroeletrônicos, bazar e têxtil.

O número pessoas que receberá o 13 avançou 6,9% em relação a 2007. O Dieese estima que 4,4 milhões passaram a receber o benefício neste ano.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Ana Carolina Saito e Jaime Soa res de Assis)