Título: Consumo interno manterá dinamismo
Autor: Oliveira,Regiane de
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/11/2008, Nacional, p. A7

São Paulo, 12 de Novembro de 2008 - O mercado doméstico continuará puxando a economia brasileira, apesar da redução no dinamismo, afirma Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria Econômica, que participou do seminário "Perspectivas do Crédito no Brasil" promovido pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Para ele, passado o choque inicial da crise financeira internacional, o Brasil vai passar por uma fase de acomodação, será representada por sinais de desaceleração em diversos segmentos da economia. "Teremos fusões e aquisições em vários setores. E todos serão obrigadas a aumentar a eficiência o que será bom para a economia em geral".

Otimista, Blanche acredita que a crise financeira deveria ser considerada mais como um ajuste do que uma "queima de riquezas", que certamente terá reflexos no sistema produtivo. Entretanto, para ele a economia brasileira está blindada, mas o País não terá mais capacidade de continuar crescendo entre 4,5% e 5% ao ano. Um dos motivos é que "o setor público brasileiro tem 40% do PIB e investe 1%, enquanto o setor privado tem 60% do PIB e investe 26%."

O fato é que esse modelo de investimento faz o País ser carente em recursos de longo prazo. "No Brasil a alavancagem de crédito é de 37% do PIB, que deve fechar o ano entre R$ 1,3 trilhão e R$ 1,4 trilhão. É uma alavancagem pequena, mas cerca de 7% a 8% desses recursos provêm de investidores externos", diz o consultor. Apesar disso, o Brasil manterá índices de crescimento significativos. "Nossa previsão é que o PIB feche o ano com crescimento de 5,4%, e tenha uma alta de 3,2% em 2009, o que é um ótimo resultado frente à média história do País, com taxas de crescimento da ordem de 2%", avaliou.

"Não falamos em recessão, só em uma expansão um pouco mais moderada", afirmou Alexandre Andrade, economista da Tendências Consultoria. Ele aponta que a confiança do consumidor começou a apresentar uma queda nos últimos três meses, o que afeta também a disposição para adquirir dívidas. Além disso, o crédito está ficando mais caro e restrito. "Setores que puxaram o crescimento da economia até agora, como os bens duráveis, estão muito associados ao crédito e ao câmbio, e serão mais impactados", diz. É o caso do setor automobilístico, que já divulgou retração nas vendas.

A expectativa da consultoria é que o consumo das famílias tenha um aumento de 6,5% neste ano e 4% em 2009.

Mercado imobiliário

O mercado imobiliário teve uma redução significativa de suas expectativas, o que não significa que no médio e longo prazo não volte a ser um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira, afirma a economista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria. "Acreditamos que os resultados de 2008 ainda serão melhores que 2007 e que passado a crise de liquidez, os investimentos e a demanda devem retornar", frisou o economista.

Por enquanto, faltam estatísticas que comprovem a redução de oferta, uma vez que a maioria dos indicadores se refere aos meses até setembro, mas "o enxugamento da liquidez já compromete o giro das empresas", afirma Amaryllis. Diversas incorporadoras já reduziram suas previsões de lançamentos e estão tentando formar um caixa mais confortável para enfrentar a crise. Por enquanto, as estatísticas até setembro mostram que nunca se produziu tanto material de construção no mercado brasileiro.

Dados do Índice da Construção Civil (ICC) mostram que no acumulado de janeiro a setembro a produção de insumos para o setor cresceu 10,9% em relação ao ano passado. A projeção da Tendências é que o ICC feche o ano com alta de 8,9%. Para 2009, já considerando um cenário de desaceleração, a previsão é de alta de 4%. Já a venda de materiais de construção, de acordo com dados da Associação Brasileira de Varejo de Materiais de Construção (Abramat) cresceu 34% até agosto.

Amaryllis é otimista quanto ao futuro das empresas do setor. "O mercado imobiliário responde por 2,5% a 3% do PIB nacional. É um valor baixo, o que se almeja é chegar a patamares entre os do México (11%) e do Chile (18%)." Para isso, é necessário que o crédito continue crescendo. "Hoje libera-se mais crédito em locais onde não é preciso", afirma, referindo-se especialmente à região Sudeste. "Há muito potencial no interior do País", concluiu.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Regiane de Oliveira)