Título: Queda de preço do minério ameaça contratos de longo prazo
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/11/2008, Empresas, p. C1

Rio, 12 de Novembro de 2008 - Uma reviravolta nas práticas de mercado ameaça os contratos de longo prazo das produtoras de minério de ferro. Os preços da matéria-prima no mercado à vista já estão 20% menores do que os valores médios contratados - algo impensável pelas siderúrgicas até poucos meses atrás. O cenário mudou completamente: há seis meses, comprar minério de ferro no mercado à vista custava o dobro do preço de um contrato de longo prazo na Ásia, onde ficam os maiores compradores do mundo. Com a queda na demanda, analistas ouvidos pela Gazeta Mercantil estimam uma redução de 15% a 20% nos preços do minério de ferro em 2009. Se concretizada, a baixa interrompe um ciclo de aumentos de preços que marcou a década até então.

O preço da tonelada de minério de ferro fechou a semana passada entre US$ 69 e US$ 70 no mercado à vista na China, segundo levantamentos de bancos com base em informações daquele país. As mesmas fontes relatam valores médios de contratos de longo prazo em US$ 90 por tonelada, considerando custos com frete na ordem de US$ 10. Com isso, as siderúrgicas tendem a procurar renegociar preços contratados que estão acima do preço à vista, como já indicaram a Companhia Vale do Rio Doce (Vale) e a ArcelorMittal.

Reajustes

Em abril, quando os contratos de longo prazo foram reajustados para US$ 80 a tonelada, o valor comercializado à vista na Índia era de US$ 156, de acordo com informações do Banif. Rogério Zarpao, do Unibanco, observa que a inversão começou na segunda semana de outubro, quando o preço da tonelada de minério do mercado spot caiu para US$ 110. De lá para cá, a queda se intensificou expressivamente e, segundo os analistas, tende a continuar se a demanda por ferro, aço e automóveis não der sinais de recuperação.

"O preço do mercado já está abaixo do custo de produção de algumas minas da região", relata Marcelo Aguiar, do Goldman Sachs. O banco projeta redução de 15% no preço do minério no próximo ano. As outras mineradoras, como Rio Tinto, também já anunciaram cortes. E a Vale, segundo ele, deverá aumentar a redução dos 30 milhões de toneladas para 43 milhões de toneladas anuais. Já o Banif estima uma redução ainda maior para os preços do minério em 2009, de 20%.

Na semana passada, siderúrgicas de todo o mundo começaram a anunciar cortes na produção. ArcelorMittal, Corus e ThyssenKrupp, além das chinesas, vão diminuir o fornecimento de aço nos próximos meses.

Ferraz lembra que o minério de ferro no mercado spot na China já chegou a US$ 198 a tonelada, em fevereiro. "Todos estão parados com medo de comprar produtos de maior valor agregado e a essência disso tudo é a falta de crédito e as incertezas", disse referindo-se a toda a cadeia, de automóveis, aço e ferro.

Segundo o analista do Unibanco, os estoques de minério de ferro mantidos atualmente pela China somam aproximadamente de 75 milhões de toneladas, representando praticamente o dobro da quantidade estocada há um ano atrás.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Sabrina Lorenzi)