Título: Empresas assumem a boa governança...(pág. A-16)
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/09/2004, Transparência Corporativa, p. A-16

O levantamento revela que os principais benefícios da governança associam-se à melhoria da imagem institucional e da gestão da companhia. Duas, em cada três empresas ouvidas pela Booz Allen, conhecem o Código de Melhores Práticas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Para Heloisa Bedicks, secretária-geral do IBGC, a própria demanda pelos cursos e palestras do instituto revela o maior interesse pelo tema. Segundo ela, muitas empresas (como Petrobras, Furnas e Vale do Rio Doce) procuram o IBGC para fazer apresentações sobre governança para seus executivos. Só na Petrobras, já foram duas apresentações. Além disso, alguns cursos têm demanda muito maior que a oferta.

Para expandir a atuação fora de São Paulo, o IBGC abre, dia 1 de outubro, um escritório no Rio e acerta os detalhes finais para o 5 Congresso Brasileiro de Governança Corporativa, dias 7 e 8 de novembro.

A pesquisa da KPMG revela que a governança corporativa vem sendo avaliada, implementada e utilizada pelas empresas de forma gradativa. As principais barreiras para sua adoção são a resistência cultural (62%) e o custo de implementação e comunicação (38%).

As cinco companhias mais transparentes, segundo os entrevistados, são: AmBev, Vale do Rio Doce, Gerdau, Itaú e Pão de Açúcar. Já as cinco que têm a melhor relação com investidores são: Aracruz, Vale, Gerdau, Itaú e Petrobras.

Apesar de a governança ganhar cada vez mais importância nas empresas, os analistas ressaltam que ainda há muito o que avançar. O professor João William Grava, que defendeu recentemente tese de doutorado sobre o tema, fez um censo sobre a governança no Brasil. Ele analisou todas as companhias abertas listadas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM): 1004 companhias.

Uma das descobertas é que a concentração acionária no Brasil é maior do que se pensa. "Ela é brutal e está muito acima do que é considerado alta concentração, em termos mundiais", destaca o professor. Nada menos que 90% das empresas de capital aberto têm um grupo controlador (considerando os acordos de acionistas); em 61% das companhias pesquisadas, o grupo controlador possui mais que 90% dos votos, deixando, como destaca Grava, os minoritários praticamente sem qualquer instrumento de defesa por meio do voto em assembléia ou presença no conselho. "Seja por desconsiderarem o acordo de acionistas, seja por concentrarem-se em empresas maiores, estudos anteriores subestimavam a concentração do controle", disse.