Título: Empresas assumem a boa governança como meta prioritária
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/09/2004, Transparência Corporativa, p. A-16
A governança corporativa ganhou força com a descoberta das fraudes contábeis nos Estados Unidos, entre elas a da Enron, em 2000. Desde então, as empresas preocupam-se cada vez mais em ser transparentes e o assunto ganhou cada vez mais espaço. Pesquisa da KPMG mostra que a governança corporativa foi mencionada como sendo prioridade para 82% das empresas pesquisadas. De 250 companhias ouvidas no Brasil, 9% classificaram o tema como "a maior prioridade" e para 44% está entre "as três maiores prioridades" da administração.
A mesma pesquisa mostra que os assuntos ligados à transparência estão na ordem do dia, pois cada vez mais "interferem na percepção do mercado em relação ao negócio da companhia e, conseqüentemente, na performance e no resultado de suas organizações, além de comprometer a capacidade da empresa de captar recursos no mercado de capitais", destaca o sócio Sydney Ito, no relatório sobre os resultados da pesquisa.
O desempenho do Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC) - formado apenas pelos papéis de empresas que fazer parte do Novo Mercado e Níveis 1 e 2 da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) - confirma isso. O IGC acumula alta de 55% nos últimos 12 meses, enquanto o Ibovespa (formado pelas 55 ações mais líquidas da bolsa) sobe 48% no mesmo período.
"O investidor está disposto a pagar um prêmio por uma boa governança", destaca Robert John van Dijk, diretor-superintendente da Bradesco Asset Management (Bram), citando estudos internacionais. Segundo esses levantamentos, as ações das empresas com boas práticas de governança atingem preços até 30% maiores do que os papéis de empresas que não têm a mesma transparência.
"O sucesso das últimas aberturas de capital no Brasil comprova que o investidor valoriza a governança", completa Nelson Rocha Augusto, presidente da BB DTVM, gestora de recursos do Banco do Brasil (BB). Em todos os lançamentos recentes - Gol, Natura, América Latina Logística (ALL) - a demanda pelos papéis superou a oferta.
Todas as três companhias que estrearam na Bovespa procuraram lançar os papéis nos níveis mais altos de governança: Novo Mercado no caso da Natura e Nível 2 no caso da ALL e da Gol. As ações da Natura já subiram 55% desde o lançamento de ações - 10% apenas no dia da estréia. No mês passado, o papel subiu 9%, enquanto a Ibovespa avançou 2%. No lançamento das ações, a demanda pelos papéis da Natura foi dez vezes maior que a oferta; nas operações da Gol e da ALL os investidores, por causa da alta procura, conseguiram levar, em média, apenas 20% das ações que reservaram. As próximas companhias que abrirão capital - Grendene e CPFL Energia - vão pelo mesmo caminho. Ambas anunciaram que vão listar os papéis no Novo Mercado.
Para Luiz Eduardo Passos Maia, diretor-executivo da ABN Amro Asset Management, a governança será cada vez mais um critério de decisão para as grandes aplicações, principalmente os fundos de investimento e os fundos de pensão. Ele destacou, no caso do ABN, o Ethical, fundo no qual a governança é um dos critérios para se definir a compra das ações. No ano, o fundo rende 6,5%.
Pesquisa da consultoria Booz Allen Hamilton, que ouviu 285 empresas, também constata a preocupação das empresas com o assunto. "Governança, tal como a globalização, é inevitável"; "governança deve proteger e agregar valor à empresa", são exemplos de frases ditas pelas entrevistadas.