Título: Renda do trabalhador recua e representa 41,7% do PIB
Autor: Monteiro,Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/11/2008, Nacional, p. A5
Brasília, 13 de Novembro de 2008 - A redução da desigualdade de renda no Brasil nos últimos 17 anos ocorreu por causa da estabilidade econômica dos últimos anos e dos programas sociais. Ao mesmo tempo, no entanto, houve queda da renda do trabalhador brasileiro. É o que revela estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) que mostra que a participação da renda do trabalhador no Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 45,4%, em 1990, para 41,7% em 2007.
O presidente do IPEA, Marcio Pochmann, acredita que a renda do trabalhador deve se recuperar e voltar ao patamar de 1990 apenas a partir de 2011 -- caso se mantenha o cenário econômico observados a partir de 2005. Naquele ano, a fatia cresceu 4% em relação ao ano seguinte, graças à retomada do crescimento econômico, o que permitiu o aumento da massa salarial, de criação de emprego, de aumento do salário, além da expansão dos programas sociais do governo.
Segundo o IPEA, enquanto a renda do trabalhador caiu em relação ao PIB entre 1990 e 2007, simultaneamente, o índice da desigualdade da renda -- chamado de Gini -- recuou de 0,60 para 0,53, em igual período. Quanto maior é o número maior é a desigualdade do País. "Todo país que tem Gini acima de 0,4% não tem uma distribuição civilizada de renda. Embora o índice tenha melhorado, ainda estamos longe de uma distribuição civilizada do trabalho no Brasil", disse Pochmann.
A redução da desigualdade de renda no Brasil aconteceu em virtude da combinação de elevação do salário dos trabalhadores de baixa renda e de redução daqueles com maior salário no mercado. Segundo o estudo, o rendimento médio mensal dos 10% mais pobres -- denominada base da pirâmide social -- cresceu 44,4% (de R$ 76 em 1990 para R$ 110 em 2007). Já quando analisados os 20% mais pobres. o aumento foi menor de 16,5%. Isso aconteceu em decorrência, diz Pochmann, da expansão do emprego, elevação do salário mínimo e da Previdência Social, do Bolsa família, além do crescimento econômico.
Em situação oposta, a renda dos ocupados melhor remunerados caiu 9,8%, de R$ 4,57 mil para R$ 4,13 mil, em igual período. O destaque ficou para a pequena fatia mais rica do Brasil, que Pochmann chamou de topo da pirâmide que representa apenas 1% da renda nacional, para a qual a perda foi de 12,7%.
Apesar de demonstrar otimismo quanto à recuperação da renda do trabalhador nos próximos três anos, Pochmann acendeu uma luz amarela, em razão da crise econômica internacional que deve reduzir o ritmo da atividade econômica no Brasil já a partir do primeiro trimestre de 2009, e dos efeitos da política de aperto monetário do Banco Central. "A nossa preocupação é que haja uma interrupção desse ciclo que estamos vivendo", disse o presidente do Ipea durante a apresentação dos dados do estudo: Distribuição Funcional de Renda no Brasil: Situação Recente, na sede do órgão. "Todo o trabalho feito na economia a partir de 2005 pode ser interrompido pela alta do juro e da crise econômica mundial, que impacta nas decisões de investimentos e do consumo."
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Viviane Monteiro)