Título: Nossa Caixa pode valer um Bradesco
Autor: Pinheiro,Vinícius
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/11/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 13 de Novembro de 2008 - Enquanto as especulações sobre o valor a ser pago pelo Banco do Brasil pela Nossa Caixa correm soltas, o mercado financeiro faz as contas. E a conclusão praticamente unânime é de que o preço do banco estadual paulista sairá bem salgado para o BB. A medida de referência usada pelos analistas é a relação entre o preço e o valor patrimonial da ação. Caso a instituição seja adquirida por R$ 7 bilhões, conforme os rumores mais recentes, essa relação equivaleria a duas vezes. Para se ter uma idéia, trata-se de um múltiplo superior ao do próprio BB e próximo ao de bancos privados de grande porte, como o Bradesco, cuja ação é negociada a 2,1 vezes o valor patrimonial.

O problema, dizem os analistas, é que a rentabilidade da Nossa Caixa representa pouco mais da metade alcançada por BB e Bradesco. Ou seja, o banco deve pagar mais do que ele próprio vale no mercado por uma instituição que possui um retorno muito menor. E o baixo retorno não deve ser revertido tão cedo, já que o balanço do banco paulista sofre um impacto trimestral de cerca de R$ 150 milhões, por conta da aquisição da folha de pagamento do funcionalismo estadual. "Pode até ser que, historicamente, esse seja o valor justo da Nossa Caixa, mas não nas condições atuais do mercado", considera o analista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho. Tanto o BB como a instituição paulista divulgam o balanço trimestral nesta quinta-feira, o que deve trazer ajustes a essa relação.

Enquanto as condições para a compra do banco estatal paulista não são confirmadas, o mercado estabeleceu como "piso informal" os números da incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), na qual a instituição foi avaliada em 1,57 vezes o patrimônio. Na dúvida, muitos investidores não aguardaram para ver a conclusão do negócio. Outros preferiram "mudar de lado", vendendo papéis do BB e comprando da Nossa Caixa. Desde que anunciou a intenção de adquirir o banco, em maio, os papéis do banco federal perderam metade do valor de mercado, de longe a maior queda entre as principais instituições financeiras listadas na BM&F Bovespa.

O analista da Lopes Filho ressalta, porém, que as contas feitas pelo mercado não são a única maneira de se avaliar o preço de um banco. Ele destaca que a aquisição é estratégica para o BB, que pretende se aproveitar da grande presença da Nossa Caixa em São Paulo, onde fica atrás dos concorrentes privados como Itaú Unibanco e Bradesco. "A compra do Banespa pelo Santander foi considerada cara pelo mercado na época, mas para o banco era um novo negócio e uma oportunidade", lembra.

Incertezas

O mercado acompanha com preocupação o andamento das negociações tanto da Nossa Caixa como da participação no Banco Votorantim. As especulações a respeito do valor a ser desembolsado pelo banco têm deixado a instituição vulnerável e aumentado a oscilação dos papéis, em um cenário em que o mercado já não prima pela racionalidade.

Apesar de ambos os negócios fazerem sentido para o BB, a avaliação de um profissional é de que "pode faltar balanço" para o banco, ou seja, as operações devem comprometer os resultados futuros da instituição. Também preocupa o mercado o fato de as operações de compra de Nossa Caixa e Votorantim envolverem dinheiro vivo, e não apenas troca de ações como ocorreu com o próprio BB no caso do Besc e, nesta semana, na incorporação do Banco do Estado do Piauí (BEP). Isso sem falar nos sucessivos programas de ajuda financeira do governo federal contra a crise que serão implementados via BB.

Com base nas cotações de terça-feira, o valor de mercado da Nossa Caixa estava em R$ 5,4 bilhões, bem abaixo do possível preço de venda, um sinal da cautela dos investidores. Nos momentos mais delicados da crise, chegou-se a especular que o BB desistiria da operação, que só voltou a ganhar força após a fusão entre Itaú e Unibanco.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Vinícius Pinheiro)