Título: Adversários definem destino de perdedores
Autor: Bruno,Raphael
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/11/2008, Política, p. A11

Brasília, 10 de Novembro de 2008 - "Política é como uma nuvem: você olha agora e ela está de um jeito. Olha de novo daqui a pouco e ela já mudou". A expressão, cunhada primeiramente pelo ex-governador de Minas Gerais na década de 1960, Magalhães Pinto, resume bem o que as últimas semanas significaram para alguns dos candidatos derrotados nas eleições municipais de outubro. Poucos dias após a realização do pleito, muitos dos políticos que amargaram dolorosos revezes nas urnas já estão no centro de especulações e cálculos políticos envolvendo a volta por cima, imediata ou em 2010.

A disputa pela prefeitura de São Paulo, por exemplo, foi palco de derrotas para algumas figuras de renome no cenário político nacional. O destino da ex-ministra Marta Suplicy (PT) é um dos que mais desperta especulações. Logo após a derrota para o prefeito reeleito Gilberto Kassab (DEM), a petista declarou que só definiria os rumos de seu futuro político após período de descanso da campanha eleitoral. Aliados de Marta, contudo, sondaram a possibilidade de retorno da petista à Esplanada dos Ministérios, de onde saiu do comando do Ministério do Turismo para disputar o pleito municipal. A volta à Brasília é vista como uma forma de manter a ex-ministra em exposição até as eleições de 2010.

A efetivação do nome de Luiz Barretto, em meados de setembro, como titular da pasta, aliada à declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após as eleições, sinalizando que não iria "acomodar" aliados derrotados nas eleições, esfriaram, no entanto, os ânimos de petistas ligados à Marta. Hoje, a incerteza sobre o futuro da ex-ministra reina no PT paulista. "Marta é um nome forte do PT para 2010", diz o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), figura próxima à Marta. "Ela pode se candidatar a qualquer cargo ou pode nem ser candidata. Pode ter um papel importante na coordenação da campanha presidencial, por exemplo. Tudo vai depender da vontade dela, da discussão do conjunto do partido e da conjuntura política", acrescenta..

O parlamentar descarta, por enquanto, o retorno da petista a algum ministério. Vacarrezza também não aposta em Marta com algum cargo na direção estadual do partido, outra hipótese que chegou a ser cogitada por aliados. "Não é bem o perfil dela esse quadro de dirigente partidário", argumenta o deputado. "E, em conversas que tivemos, ela já me deixou claro que o ministro Luiz Barretto tem todo seu apoio para continuar no cargo", revelou Vacarrezza.

As projeções são mais generosas com o candidato à vice-prefeito na chapa de Marta, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Ex-presidente da Câmara, o nome do parlamentar é cotado para ser incluído em uma possível reforma ministerial guardada para o próximo ano. Também derrotado por Kassab, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), saiu das eleições com o discurso de que 2010 estaria ainda muito longe. Diante da perda de espaço para o grupo do governador José Serra e da multiplicação de conversas relacionadas dando conta de que Alckmin não mais seria o "candidato natural" do partido à 2010, contudo, a ala do tucanato paulista mais próxima à Alckmin busca reagir. "O Geraldo é uma liderança importante que teve uma votação expressiva nestas eleições", defende o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). "Não aconselharia ninguém a subestimar o Geraldo. Não tenho a menor dúvida de que ele vai desempenhar um papel importante em 2010", acrescenta.

No Rio de Janeiro, o deputado federal Fernando Gabeira (PV), mesmo derrotado numa das eleições municipais mais acirradas do país, ganhou notoriedade e cacife eleitoral com a campanha e hoje é cogitado para disputar uma vaga no Senado pelo Estado do Rio de Janeiro em 2010. Outro derrotado no pleito de outubro passado, o prefeito Cesar Maia (DEM), saiu das eleições falando em disputar o governo estadual em 2010, apesar do desempenho não muito animador de Solange Amaral (DEM), candidata apoiada por ele, nas eleições de outubro passado. "O DEM decidirá isso a fins de 2009", comentou o prefeito, mais cauteloso, em resposta à e-mail enviado pela reportagem.

Outro candidato derrotado nestas eleições que sonha com vôos maiores no futuro próximo é o deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG). Após perder disputa marcada por reviravoltas pela prefeitura de Belo Horizonte para Márcio Lacerda (PSB), o parlamentar ganhou prestígio e respeito na Câmara. Na reunião de lançamento da candidatura de Michel Temer (PMDB-SP) à presidência da casa, Quintão foi recebido por correligionários com aplausos de pé e muitos comprimentos. Um indicativo de que, ainda que não consiga uma candidatura a cargo maior em 2010, ao menos na Câmara o deputado peemedebista encontrará ambiente mais receptivo. E de que, em política, como alertou o ex-governador mineiro, o cenário pode mudar rapidamente.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Raphael Bruno)