Título: Encontro em SP termina sem medidas concretas contra a crise
Autor: Hessel,Rosana ; Saito,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/11/2008, Internacional, p. A16

São Paulo, 10 de Novembro de 2008 - A reunião do G20 terminou ontem em São Paulo sem propostas concretas para enfrentar a crise financeira internacional. O consenso entre os ministros das finanças das 20 principais economias do mundo está na defesa da necessidade de uma ação rápida e coordenada dos países e a adoção de políticas fiscais para estimular a economia. Em documento, pediram ainda o fortalecimento e a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, com uma participação maior dos emergentes nos dois organismos.

"Ação coordenada é uma coisa, mas isso não significa que ocorra ao mesmo tempo que os demais. Cada país tem sua política a ser seguida. De alguma forma, é preciso analisar as conseqüências internas e o efeito externo das ações", disse o diretor gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. Ele elogiou a medida da China, que anunciou ontem um pacote de quase US$ 600 bilhões para aquecer a economia interna. "Essa medida está em linha com o que o Fundo vem recomendando nos últimos meses."

O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, afirmou que, apesar de ainda não haver um cronograma de medidas de combate à crise, não se pode esperar a reforma do sistema financeiro para dar as soluções para o atual cenário econômico. A expectativa de Mantega é que essa agenda seja acordada durante a cúpula do G20 nos próximos dias 14 e 15 em Washington. Ele espera também que lá seja definido um novo papel para o grupo. "As soluções têm de ser muito mais rápidas. Portanto, nós vamos ter que trocar a roda do carro, com ele em movimento. Dentro de 30 a 90 dias teremos que ter as soluções para a regulação financeira internacional e para nova forma de atuação de certos organismos", disse.

Entre as medidas que podem ser tomadas no momento, segundo o ministro, estão o fortalecimento do FMI, com maior representatividade, e a formação de grupos de trabalho a partir do G20, que se reunirá em Washington. "A reunião terá a chancela dos presidentes que têm poder político maior. Eles poderão acertar uma agenda de trabalho, estabelecendo prazos para que se apresentem propostas concretas de modo que em um, dois ou três meses possamos já ter repostas."

De acordo com o ministro, foram feitas várias propostas para fortalecer o G20. O objetivo é que o grupo passe a ter reuniões semestrais, juntamente com os encontros do FMI e do Banco Mundial (Bird). "Hoje, o G20 se reúne apenas uma vez, em novembro. Além disso, foi proposta a criação de uma sala de situação para acompanhamento dos acontecimentos econômicos e influir decisivamente nas ocasiões de crise".

Após os três dias de reunião em São Paulo, os ministros do G-20 também concordaram que os países devem realizar políticas anticíclicas, fiscal e monetária, adequadas à situação das contas públicas de cada economia. O chefe do FMI, destacou que um dos temas principais da discussão da reunião do G20 girou em torno do tema de adoção de medidas fiscais expansionistas, que deverá variar de acordo com cada país. Ele elogiou o documento do G20 afirmando que há consenso na urgência das medidas de combate à crise.

"Cada país vai agir de acordo com sua necessidade. A China saiu na frente", afirmou Mantega. Ele disse que o Brasil também tem tomado medidas fiscais para estimular a economia, citando o alongamento de prazos para o pagamento de impostos para reforçar o caixa das empresas. Mas, prosseguiu o ministro, o País ainda não apresentou uma queda no nível de atividade para adotar pacotes como o do país asiático.

Os presidentes dos Bancos Centrais demonstraram preocupação com a situação inflacionária. "Há consenso de que o perigo maior é de uma deflação e não de alta de preços. Os países que sofrem saída de capitais deverão ter uma inflação momentânea, mas isso deverá ser passageiro, pois a tendência é que haja uma deflação em 2009", disse Mantega.

Questionado sobre a possibilidade de mudança na atual política monetária brasileira, o ministro disse que cada país deve calibrar o ritmo de acordo com as suas necessidades centrais. Na sua avaliação, a perspectiva é de uma retração da demanda mundial, que deverá levar a uma retração dos preços. "O risco maior é deflação. No Brasil, as autoridades terão capacidade de se adequar às medidas. Se havia um excesso de demanda, e como a expectativa é de queda na demanda, a pressão inflacionaria cederá lugar para outras preocupações. Cabe ao Banco Central decidir sobre isso", disse o ministro.

O governo brasileiro apresentou ontem a proposta que levará à reunião do G20 em Washington. Além da reformulação e maior presença dos emergentes no FMI e no Bird , o Brasil defende a criação de um mecanismo de alerta de risco pelo Fundo ou por um novo órgão de supervisão global, além de maior transparência nos balanços das instituições financeiras.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 16)(Rosana Hessel e Ana Carolina Saito)