Título: BC volta atrás e corrige distorção com títulos
Autor: Alisk,Ayr i e Monteiro,Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/11/2008, Finanças, p. B3

Brasília, 14 de Novembro de 2008 - O Banco Central anunciou ontem medida que pode liberar mais R$ 40 bilhões aos bancos, valor total do recolhimento do adicional dos depósitos compulsórios. Essa parcela representa 5% dos depósitos à vista e a prazo, e 10% da poupança. A decisão enxuga a oferta excessiva de títulos no mercado causada pelo próprio BC, ao anunciar em 30 de outubro, mudanças no recolhimento dos depósitos a prazo, passando a exigir 70% em espécie e 30% em títulos públicos. Antes podia ser tudo em títulos.

A medida vale a partir de 1º de dezembro. Segundo o BC, a medida "visa recompor os volumes recolhidos em títulos, que prevaleciam antes das mudanças nos compulsórios, para preservar a liquidez do mercado".

A alegação da autoridade monetária é que a mudança de 30 de outubro foi necessária para forçar os bancos maiores a usar parcela do compulsório a prazo para comprar carteiras das instituições menores, estratégia definida pelo governo para driblar os efeitos da crise financeira. Isso porque os bancos não estavam fazendo as compras no volume esperado.

Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a medida não vai adicionar crédito na praça. "Essa medida é neutra do ponto de vista de liquidez", avaliou o economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, ex-secretário-adjunto do Tesouro Nacional. Ele explica que a medida promove apenas uma troca de dinheiro por títulos. "Não existe uma liberação adicional de recolhimento de compulsórios", atesta.

Na prática, a primeira medida liberou mais títulos e agora a nova decisão retira esses papéis do mercado. "Foram dois passos para a frente e agora um para trás", avalia o economista Fábio Sustera, do Banco Real, ao comentar os ajustes na administração da liquidez do mercado.

Segundo ele, desde que foi anunciada mudança para o recolhimento da parcela principal dos depósitos a prazo, no final de outubro, as instituições financeiras aumentaram as vendas de títulos. O excedente de oferta gerou efeitos colaterais como a elevação dos juros futuros. Agora, ao voltar a receber títulos públicos no recolhimento do compulsório, o BC enxuga o mercado e corrige distorções. Para Sustera, a decisão não deve ser interpretada como um recuo do BC, mas como um ajuste fino na administração da liquidez do mercado.

"Tive a impressão de que foi dada marcha à ré", disse Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central. Segundo Freitas, a autoridade monetária "constrangeu" as instituições financeiras ao tentar obrigar a compra de carteiras de bancos menores, por meio da mudança das regras do compulsório dos depósitos a prazo. "Não se pode brincar com o sistema financeiro", disse.

Fontes do sistema financeiro avaliam que a redução da demanda pelos papéis públicos elevou o custo da dívida pública, pois o governo teve que pagar mais para vender títulos no mercado. A queda da demanda foi estimada em R$ 28 bilhões, o que poderá ser compensado com os R$ 40 bilhões a serem liberados com as mudanças do compulsório anunciadas ontem. Em outubro o Tesouro cancelou leilões de títulos públicos, devido às condições ruins de mercado e deixou de ofertar LTN, LFT e NTN-F.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Ayr Aliski e Viviane Monteiro)