Título: Desaceleração reduz custos operacionais
Autor: Salgueiro,Sônia
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/11/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 18 de Novembro de 2008 - A queda na cotação do barril do petróleo - que valia US$ 145,29 em 3 de julho e na última sexta-feira era adquirido por US$ 57,04 - começa a refletir no preço dos fretes marítimos e aéreos. Segundo Ary Chander, gerente operacional da Hellmann Worldwide Logistics do Brasil, de julho para cá o preço final do frete aéreo caiu cerca de 11% para cargas destinadas aos Estados Unidos e Europa. Nos fretes marítimos para os mesmos destinos, a redução média é de 6%.

Por enquanto, analisa o executivo da Hellmann, empresa de origem alemã que atua no ramo de transporte internacional e logística integrada, a queda decorre exclusivamente do fator petróleo. Ele acha, entretanto, que daqui por diante a desaceleração do comércio internacional pode pressionar ainda mais para baixo o custo de fretes e contêineres. "Até março, os fretes cairão ainda mais, de 10% a 20%, devido à retração do mercado."

A Indústrias Romi, fabricante de máquinas-ferramenta e de máquinas para plásticos que prevê exportar cerca de 15% da sua produção deste ano, já experimenta uma pequena queda no custo dos fretes, inferior a 10%. "Tradicionalmente, quando o preço do insumo dispara o repasse é imediato. Mas quando as cotações despencam a inércia é grande", compara o diretor de comercialização, Hermes Lago.

Além do frete mais barato, ele nota maior disponibilidade de contêineres. "Nós não tivemos problemas, porque nos programamos com quatro meses de antecedência, mas há seis meses era uma batalha arrumar um contêiner", relata o diretor.

Segundo Regina Terezin, diretora da Cualidad Assessoria e Despachos Aduaneiros, a queda no preço dos fretes começou a se delinear quando a China pisou no freio. "Por um bom tempo, todos os navios de médio e grande porte foram desviados para a Ásia, restando à América Latina os navios de médio para pequeno porte, que levam menos contêineres." Agora, analisa Regina, começa a haver maior disponibilidade de espaço em navios e aviões, o que pode explicar o barateamento do transporte internacional.

"A lei da oferta e da procura serve de parâmetro para a fixação do valor do frete", concorda Cleverton Holtz Vighy, gerente regional Brasil da Lufthansa Cargo, que registra menor procura por espaço para exportação e ainda não alterou preços. Apesar disso, ele confirma que o mercado aéreo já iniciou um movimento de remarcação na ponta da exportação. Pelos cálculos do executivo, os preços estão entre 5% e 10% mais em conta.

Em 2007 a ocupação dos vôos da Lufthansa Cargo na exportação era de 100%. "Hoje é de 80%, sendo que a ociosidade começou a aumentar entre julho e agosto, quando o dólar atingiu seu mais baixo nível", esclarece Vighy.

O gerente informa que o período que vai de outubro a dezembro é um dos mais aquecidos para o transporte aéreo na ponta da exportação. No transporte marítimo o movimento é inverso. "É normal haver queda de movimento nos meses de novembro, dezembro e janeiro, devido às férias coletivas que acontecem na Europa e nos Estados Unidos", afirma Antonio Carlos Sepúlveda, diretor de operações da Santos Brasil, empresa que opera terminais de contêineres nos portos de Santos (SP), Imbituba (SC) e Vila do Conde (PA).

Neste ano, em função da crise internacional, a retração é um pouco maior na Santos Brasil. O diretor informa que, de outubro para novembro de 2007, a companhia registrou uma queda de 6% na movimentação de contêineres. Neste mês, considerado o movimento acumulado até ontem, a redução em relação a outubro chega a 10%. Ainda assim, Sepúlveda prevê expansão. "Devemos cumprir nossa meta de crescer 3%."

Mesmo que modesta, a queda dos custos logísticos é boa notícia para todo mundo que atua no mercado internacional, mas é um alento especial para os exportadores, que vinham sofrendo com o alto valor do real frente ao dólar. Apesar de os custos com frete correrem por conta do cliente, qualquer economia significa maior competitividade lá fora. Por causa da moeda, muita gente foi obrigada a rever estratégias, dispensar clientes ou mercados inteiros e rever o mix de produtos exportados.

"Nossa curva de exportação tem acompanhado o câmbio", afirma Domingos Dragone, diretor industrial da Black & Decker, fabricante de eletrodomésticos e ferramentas que em 2005 exportava US$ 40 milhões e neste ano vai vender US$ 18 milhões no exterior. "Avalio que, com a cotação do petróleo e a demanda mundial em baixa, o preço do frete pode cair", prevê o executivo.

Para se manter no mercado internacional, a Black & Decker abandonou algumas praças. "Hoje nossas exportações se limitam à América Latina, mas focamos o Cone Sul. Da Colômbia para cima, perdemos mercado para os chineses", comenta Dragone. Agora, com a perspectiva de um câmbio mais atraente, oscilando entre R$ 1,90 e R$ 2,20, o diretor acha que dá para recuperar terreno pelo menos no México. "Ainda não dá para ser um player global, mas ganharemos competitividade pelo menos na América Latina", prevê.

O executivo considera que, além de um câmbio mais generoso, a empresa deve se beneficiar da queda da cotação de vários insumos. "Até julho a pressão por aumento era enorme. Depois disso, alguns insumos começaram a baixar." Segundo Dragone, o cobre, que custava de US$ 7,00 a US$ 7,50 o quilo na metade do ano, hoje sai por cerca de US$ 4. O alumínio, que era vendido a US$ 3, agora custa US$ 2,10. Quanto ao preço de outros insumos, como resinas, polímeros e aço, eles pelo menos estacionaram. Na opinião de Dragone, nem todos os preços caíram porque as empresas estão esperando para ver em que nível ficará o câmbio para definir preços.

Hermes Lago, da Romi, tem a mesma impressão. "Está todo mundo esperando para ver onde vão se acomodar os novos níveis de custo", afirma. Apesar da crise internacional, a Romi deve fechar o ano com vendas externas 20% a 25% maiores que as de 2007.

"Não tivemos problemas de cancelamento. Só atrasamos alguns embarques nas primeiras semanas de outubro porque os clientes estavam tendo dificuldade para obter financiamento." Segundo ele, negociações que estavam mais adiantadas esfriaram um pouco.

Lago diz que os negócios nos EUA estão desaquecidos há alguns meses e ele debita a estagnação mais às eleições presidenciais do que à quebra do Lehman Brothers. "Claro que o Lehman foi o catalisador de tudo, mas havia toda uma expectativa quanto às eleições." Segundo Lago, até setembro as vendas da empresa aos EUA recuaram de 15% a 20%, sendo compensadas pela expansão de 20% obtida no mercado europeu.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Sônia Salgueiro)