Título: Exportação de madeiras pode ter o pior resultado em 4 anos
Autor: Batista,Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/11/2008, Agronegócio, p. B11

São Paulo, 17 de Novembro de 2008 - Em setembro, depois da concordata do banco Lehman Brothers, a crise saiu das fronteiras americanas e irradiou-se para o restante do mundo, contaminando vários setores da economia. Mas, o madeireiro no Brasil, está sentindo o efeito da quebra imobiliária nos Estados Unidos, pelo menos, desde o início deste ano. As estatísticas oficiais indicam que as exportações de produtos de madeira devem ter o pior resultado desde 2004. Até outubro, os embarques somaram US$ 3 bilhões, 10% menos que no mesmo período de 2007. Tudo indica, porém, que a retração ficará abaixo desse percentual, já que nos últimos dois meses a queda vem sendo mais acentuada. Em setembro foi de 19,6% e, em outubro, de 21%.

"Desde que estourou a crise, a mudança vem sendo muito rápida. O mercado paralisou e o recuo nas exportações foi imediato", conta Juliano Vieira de Araújo, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci). Não há neste momento, uma estimativa de quanto esse cenário refletirá na produção de madeira do ano que vem. "Mas, certamente, haverá recuo. Já estamos tendo fechamento de fábricas", complementa Araújo.

A retração das importações americanas ocorrem desde 2006, pelo menos. Naquele ano todo, o Brasil exportou US$ 1,6 bilhão a esse país, volume que caiu para US$ 1,2 bilhão em 2007 e que, até setembro deste ano estava em US$ 654 milhões. Assim, a participação americana na receita com exportação de madeira, que era de 42% em 2006, retraiu-se para 30% em 2007 e, agora em 2008 está em patamares de 24%. "Em 2009 teremos um ajuste no mercado. Muitas empresas devem fechar e outras, mais capitalizadas para investir em tecnologia, vão crescer", analisa Araújo.

Para Rubens Garlipp, superintendente da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), o que tem grandes chances de acontecer é reduzirem os investimentos em construção no Brasil e abalar também o mercado doméstico de madeira.

De acordo com a SBS, a produção de madeira no Brasil em 2007 foi de 156 milhões de metros cúbicos de madeira (tora) de origem de floresta plantada e de 50 milhões de m3 de toras oriundas de madeira nativa. "As exportações dão muito dinamismo à atividade. A receita bruta do setor florestal (o que inclui carvão e celulose) é de US$ 37 bilhões, dos quais US$ 8 bilhões vêm da exportação. Assim, a produção deve se repetir em 2008, mas para 2009 não temos previsão", diz.

Carolina Graça, gerente de marketing e vendas da Orsa Florestal, avalia que a retração neste fim de ano também é reflexo de estoques altos no mercado europeu que, até 2007, estava muito comprador. "Havia receio de faltar madeira no Brasil por causa de problemas institucionais aqui, como greves em órgãos ambientais e de desembaraço de mercadorias. O resultado é que em 2008 os estoques já estavam altos", explica Carolina. Assim, continua ela, a demanda já começou o ano fraca, o que foi reforçado com o estouro dessa crise.

O resultado, segundo ela, é uma forte pressão de baixa nos preços. Eles já vinham recuando desde 2007, mas há tendência de recuar mais. "De uma forma geral, há uma queda de braço entre comprador e vendedor. Os importadores querem descontos, geralmente na proporção da valorização do dólar".

As dificuldades de exportação do setor estão presentes há, pelo menos, três anos, com a desvalorização da moeda americana. O Brasil acabou perdendo um pouco de mercado com a concorrência da China, que passou a ter mais vantagem, com a condição cambial brasileira. "Mas o que acontecia, é que o mercado interno de construção estava muito aquecido, compensando o início da retração", explica Garlipp.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Fabiana Batista)