Título: Indústria e varejo ampliam negociações
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Fonte: Gazeta Mercantil, 17/11/2008, Empresas, p. C1
17 de Novembro de 2008 - A instabilidade econômica, com a alta do dólar e as incertezas quanto ao ritmo de crescimento das vendas, tem modificado as práticas de negociação entre a indústria e parte do varejo neste final de ano. Ao invés dos tradicionais pacotes negociados até setembro para toda temporada, e poucos ajustes, os pedidos têm sido colocados a cada mês, em alguns casos, até semanalmente. As condições de preços são acertadas por curto período e, muitas vezes, alteradas. "Todo mundo fica esperando para saber como o consumidor vai se comportar e assim espera até a próxima semana", disse Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros).
Mauro Avila Correia, superintendente de marketing da BSH Continental Eletrodomésticos (BSH) - empresa do grupo Bosch Siemens Home Appliances que produz no Brasil os aparelhos de linha branca das marcas Bosch e Continental - informou estar negociando agora vendas para novembro e dezembro. Segundo ele, a valorização do dólar tem impactado nos preços das matérias-primas e dos produtos importados, por isso as negociações não podem ser muito antecipadas. "Conforme esses reajustes vão sendo repassados para nossa compra direta, temos que readequar. Temos que reavaliar isso todos os meses", explicou, acrescentando se tratar de estratégia de épocas de crise.
A coreana Samsung também está renegociando com maior freqüência as condições de venda neste final de ano. José Roberto Ferraz de Campos, vice-presidente executivo da empresa, afirmou que fechou os tradicionais pacotes, mas as condições estão em aberto e podem ser alteradas, se necessário. "No ano passado a coisa foi mais tranqüila. Fechamos o pacote e fizemos apenas uma pequena refinada. Este ano o pessoal está mais cauteloso", disse. Segundo o executivo, se a cotação do dólar ficar próxima de R$ 2,10, a empresa consegue segurar reajustes apenas com melhorias de produção, mas a situação muda se a cotação ficar acima disso.
Alta nos preços
Essa instabilidade tem preocupado os varejistas do País. Emilio Glinski, diretor comercial e de compras do grupo MM Mercadomóveis, a principal rede de lojas de varejo do Paraná, informou que os preços dos pedidos não estão se mantendo. "Não existe mais negociação de preços com a indústria tanto da linha branca como da marrom (eletrônicos como televisores e DVDs). E isso se estende para todos os setores. Você pode até fazer um pedido para entrega do produto em janeiro, mas o preço fica em aberto, indefinido. E o prazo máximo que um preço se mantém é de um mês", disse Glinski.
Segundo o diretor da rede, que possui mais de 100 lojas e fatura R$ 300 milhões, exceto uma fabricante de televisores, que baixou em 5% os preços dos aparelhos LCD, todos os produtos chegam com aumento. Para importados da China, como eletroportáteis, as altas são em média de 30% e só valem no mês da compra, de acordo com Glinski.
"Este tipo de situação torna praticamente impossível cumprir os preços que prometemos nas nossas campanhas de publicidade até dezembro, o que nos traz dificuldades, porque o Procon está em cima da gente, mas não da indústria", afirmou Glinski. "Não há saída, nem negociada nem jurídica, senão fazer o repasse", disse.
Nilso Berlanda, presidente da rede de lojas Berlanda, de Curitibanos (SC), informou que no mês passado, quando a crise global se intensificou e o dólar começou a subir, a empresa antecipou a compra de mercadorias que ainda não tinham os preços reajustados e acertou a entrega para novembro e dezembro. Teve sucesso na negociação de bicicletas e de eletroportáteis de apenas uma marca. "Algumas indústrias entregaram os pedidos antes, outras não. As que não forneceram estão insistindo em aumentar os preços dos produtos em 4% e 12%", afirmou.
"Nós tentamos absorver o máximo possível para não impactar os negócios. Mas nem sempre conseguimos, existe um limite para isso. A categoria (linha branca) trabalha com margens muito apertadas", disse Correia, da BSH.
Substituição de marcas
Segundo o presidente da Berlanda, a rede está negociando com várias indústrias e substituindo marcas para não pagar os aumentos. O executivo informou que não teve êxito com fabricantes de linha marrom, que não honraram as entregas e estão pedindo aumentos de 4% a 5%. O empresário afirmou que vai repassar os preços dos produtos que tiverem aumentos.
A estratégia de Nilso resultou em depósitos cheios de estoques mas o executivo não teme queda nas vendas. Em outubro, a Berlanda não registrou queda nos negócios e até 12 de novembro contabilizava retração de 5%, percentual que Nilso acredita recuperar ainda neste mês, com o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro a partir do dia 20.
Segundo Kiçula, da Eletros, apesar da desaceleração do crescimento, as vendas de linha branca devem terminar 2008 em alta. Mas desde a previsão inicial, de alta de 20% considerando o bom desempenho do ano anterior, já foram feitas várias revisões para baixo devido as mudanças nas condições de mercado - como alta de preços de matéria-prima - e a expectativa agora é de vender 8% mais do que em 2007.
As previsões para os últimos meses do ano também são positiva, mas a conjuntura frustrou os planos das indústria. "Acreditamos em um Natal forte, mas não como nos últimos anos", disse Campos, da Samsung. "O ritmo de crescimento estava fantástico, mas com as notícias da crise deu uma desacelerada", concluiu. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Wilson Gotardello Filho, Norberto Staviski e Juliana Wilke)