Título: Risco retoma níveis do início do ano
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Liquidez externa e cenário interno positivo ditam tendência favorável; Brasil tem novo "upgrade". O risco Brasil encerrou a semana no menor nível desde 29 de janeiro - no ano, a variação é de 0,5%. Na sexta-feira, a taxa cedeu 3,85%, para 465,8 pontos-base, influenciada pela forte procura dos investidores por títulos da dívida externa do País. O C-Bond, papel brasileiro mais negociado, foi cotado a 99,375% - alta de 0,25% -, retomando o patamar do início do ano. Para analistas, o atual cenário é motivado por uma combinação de fatores externos, como a farta liquidez, e internos, entre eles o forte crescimento da economia brasileira. Tanto é que no início da noite de sexta-feira, a Standard & Poor¿s elevou a classificação de risco do Brasil, de B+ para BB-. Mais um reforço para as perspectivas, que já eram favoráveis.

O diretor da corretora Lopez Leon Brokers, Felipe Brandão, afirmou que o baixo retorno dos títulos do Tesouro americano (as "treasuries") tem favorecido os mercados emergentes e, por conseqüência, o Brasil. Na sexta-feira, por exemplo, as treasuries de dez anos estavam pagando 4,12%. Os últimos dados da economia dos Estados Unidos vieram aquém das expectativas do mercado, puxando a queda na curva de juros do país. "Apesar de Alan Greenspan (presidente do Federal Reserve, Fed) falar que vai mexer nos juros, os agentes econômicos não estão respondendo com temor."

A próxima reunião do BC americano está marcada para amanhã. Na avaliação de Brandão, o Fed deverá manter ajustes graduais na taxa básica. "O temor de que o Fed promoveria um aumento mais agressivo do juro foi dissipado", reforçou o economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli. As projeções dos analistas indicam nova alta de 0,25 ponto, para 1,75%.

Para o gestor da Mellon Global Investments, Carlos Eduardo Olinto, "um aumento de 0,25 ponto não causará impactos e a liquidez deverá continuar". Brandão lembrou ainda que recentemente passou-se a cogitar até uma parada técnica no processo de aperto monetário nos Estados Unidos. "A situação, portanto, é cômoda e as persperctivas, boas. O risco e os títulos da dívida devem se manter nesses patamares, pelo menos no curto prazo", afirmou o diretor da Lopez.

Do lado interno, o quadro também é favorável. Segundo Brandão, a aceleração da economia mundial tem contribuído para o elevado superávit da balança comercial do País, diminuindo a vulnerabilidade externa. Bassoli, do HSBC, destacou ainda que o crescimento da economia tem implicações positivas no setor fiscal, com a melhora da relação dívida/PIB.

Com o cenário benigno, tanto internamente como no front externo, ao longo da sexta-feira circularam rumores de que o rating do País poderia ser elevado - o que se confirmou no começo da noite. O movimento de captações externas também deverá permanecer. Segundo o diretor da Lopez, não há sinais de saturação do mercado secundário, apesar do grande volume de operações. "Os investidores estão absorvendo bem as emissões."

O Tesouro brasileiro também poderá voltar ao mercado. "Pelo menos, deveria", afirmou Olinto, da Mellon. Ainda que tenha cumprido o cronograma de emissões do ano, na sua opinião, seria bom antecipar o financiamento das dívidas do próximo ano. "O Brasil deveria retomar as captações e, se o fluxo de dólares se mantiver, voltar a comprar dólar", disse.

Para Brandão, apesar do cenário favorável, há de se monitorar o juro americano, já que a maior ameaça para esse quadro seria a redução da liquidez internacional. Da mesma forma, ele defendeu atenção especial ao juro doméstico, ainda que o aumento de 0,25 ponto na Selic (a 16,25%) tenha sido bem assimilado.

"A pedra no sapato seria uma elevação grande do juro no Brasil a fim de trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% para 2005, uma vez que colocaria em risco a relação dívida/PIB", acrescentou Olinto. Por outro, segundo o gestor, a hipótese de elevar a meta de superávit primário atenuaria esse risco. A fim de antecipar os próximos passos do BC, os investidores estarão atentos à divulgação da ata do Copom na quinta-feira.

Num primeiro momento, a reação dos mercados à decisão de elevar a taxa Selic foi tranqüila. O dólar encerrou a sexta-feira cotado a R$ 2,867 - o menor nível desde março -, com baixa de 0,62%. Na semana, o recuo é de 1,2%. Os juros futuros apontaram queda no longo prazo, refletindo o otimismo que predominou na semana.