Título: Volume de vendas do varejo cresce 1,2% em setembro
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 19 de Novembro de 2008 - A conjuntura favorável da economia, registrada desde o ano passado e traduzida pelo aumento de renda, massa salarial e emprego, somada a uma taxa de câmbio que, até um período recente, valorizava o real, contribuíram para os números positivos do comércio varejista. De acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em setembro o setor varejista cresceu 1,2% no volume de vendas e 1,3% na receita nominal de vendas, na comparação com agosto. Setembro foi o sétimo mês consecutivo a apresentar crescimento em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal.

Na comparação com setembro de 2007, sem ajuste sazonal, o crescimento foi de 9,4%. No acumulado do ano o volume e a receita de vendas apresentam, respectivamente, aumento de 8,0% e 13,3%. Avanço maior, de 10,4%, ocorreu na comparação, também sem ajuste sazonal, entre o período de janeiro a setembro deste ano com igual período do ano passado, valor praticamente igual aos 10,3% de crescimento auferido nos últimos 12 meses contados até setembro. Para Reinaldo Pereira, coordenador da pesquisa no IBGE, "os números mostram que a crise financeira ainda não atingiu o comércio varejista no Brasil". Ele reconhece que havia uma expectativa de queda do indicador, por conta do agravamento, justamente em setembro, da crise internacional, mas a pesquisa evidenciou que não houve influência negativa.

Todas as dez atividades pesquisadas obtiveram crescimento no volume de vendas em setembro, e houve até mesmo recuperação no comércio varejista de setores bastante sensíveis ao crédito, como o automotivo e de materiais de construção, cujos índices haviam apresentado queda no mês anterior. O comércio de veículos, motos, partes e peças, que havia apresentado queda de 3,4% em agosto frente a julho, fechou com variação positiva de 5,5% em setembro, com ajuste sazonal. A mesma situação foi verificada em materiais de construção, segmento que reverteu a queda de 0,8% em agosto para um crescimento de 1% em setembro.

Pereira ressaltou, entretanto, que era esperado um aumento maior para alimentos, que variou 1,4% frente a setembro de 2007 e 0,6% em comparação com agosto. "A inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), estava na faixa de 13%, por conta do aumento dos preços dos produtos alimentícios e commodities verificado mais fortemente no primeiro semestre. Mas como esse avanço nos preços já havia acabado, esperávamos um número um pouco melhor nesse segmento", destacou o pesquisador. Ele acrescentou que os alimentos têm um peso muito grande na composição do indicador, e que uma melhora no setor teria refletido mais fortemente o aumento verificado no índice geral.

Projeções

Para Luiz Góes, coordenador do Núcleo de Estudos e Projeções Econômicas da Gouvêa de Souza & MD, a expectativa é de crescimento de 8% a 8,5% para o varejo em 2008, sobre o ano passado. Ele salienta que esse avanço é 3,5 pontos percentuais superior à perspectiva de fechamento do Produto Interno Bruto (PIB) do País, que deve encerrar 2008 próximo de 5%. "Isso significa que o varejo teve crescimento bastante intenso neste ano. Mas, para o último trimestre do ano, esperamos crescimento menor nas áreas altamente dependentes de crédito, como os setores automotivo e de materiais de construção", diz Góes.

Ele avalia, porém, que o varejo deve manter-se aquecido até o final do ano, principalmente porque a população das classes C e D, "que é a que está comprando e movimentando principalmente o comércio de bens duráveis, como móveis e eletrodomésticos", ainda não tem noção da crise. "Ela só terá essa dimensão quando houver rumores mais fortes de desemprego. Até lá, sua confiança não vai ser abalada, e ela vai continuar comprando, porque não lê juros, analisa somente o tamanho das prestações", frisa.

Pereira, do IBGE, também acredita na manutenção de fortes vendas no varejo neste ano. "Não sei se o mercado varejista vai acusar ainda em 2008 a tal da crise", salienta. Ele aponta dois fatores que podem contribuir para os resultados: as compras de Natal em novembro e dezembro - e as medidas que o governo vem tomando, desde outubro, para auxiliar setores ameaçados pela escassez de crédito, como a construção civil e a indústria automobilística, além das linhas de financiamento dos bancos oficiais para a compra de bens de consumo.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Bruno De Vizia)