Título: BNDES quer recursos do compulsório para emprestar
Autor: Monteiro,Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2008, Finanças, p. B1
Brasília, 19 de Novembro de 2008 - Diante de recursos insuficiente para atender a demanda por crédito ao setor produtivo neste ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) negocia com o Banco Central a liberação de um adicional de compulsório no sistema financeiro para viabilizar seus financiamentos no valor de R$ 7,5 bilhões. Na prática, o banco pretende fazer uma captação via Certificados de Depósito Interbancário (CDI) no mercado para garantir um adicional de R$ 10 bilhões aos desembolsos previstos para este ano, que somam R$ 90 bilhões.
Desse montante, a Caixa Econômica Federal (CEF) já garantiu R$ 2,5 bilhões ao banco de fomento, por meio de operações de CDIs. Transações parecidas poderão ser feitas com os demais bancos. A idéia é atender principalmente as pequenas e microempresas e os projetos de infra-estrutura. Essa seria a sexta captação de recursos do banco. Nesta nova operação, o BNDES está disposto a pagar até 104% do CDI, o que pode encarecer o custo das operações do banco.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que o acordo está sendo costurado com a autoridade monetária e o Ministério da Fazenda e que espera que a definição saia nos próximos dias. "Queremos saber se parte do compulsório bancário poderá ser usada para este tipo de operação, por parte dos bancos em geral", disse ele, quando participava de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado, sobre a criação do fundo soberano, proposta que já foi aprova na Câmara dos Deputados.
Coutinho não deu detalhes sobre os empréstimos feitos pela CEF, apenas disse que "foi uma operação voluntária". Segundo ele, a demanda pelos recursos no banco de fomento permanece elevada, mesmo diante da crise mundial, fenômeno que secou as fontes de financiamento nos bancos do mundo inteiro. E por conta da forte procura dos empresários pelos empréstimos do BNDES, o executivo admitiu que o funding do banco de fomento hoje é insuficiente para tal demanda. "O banco está capitalizado. Há, porém, insuficiência no funding. Mas não é déficit e nem desequilíbrio patrimonial", disse.
Somente entre agosto e outubro, as consultas sobre empréstimos cresceram 40% sobre igual período de 2007. Coutinho informou que, desde o início do ano, houve um adicional de R$ 50,8 bilhões nos desembolsos do BNDES. Até agora, o BNDES já liberou R$ 71 bilhões.
Entretanto, o aumento dos custos nas operações de empréstimos já atingiram as operações. Isso porque o custo de captação de recursos subiu de forma generalizada. Diante do cenário de escassez, fontes do BNDES dizem que em algumas operações as taxas de juros do banco já são semelhantes às praticadas pelo mercado antes da crise. Hoje, a taxa média é de 12% ao ano.
Por exemplo, uma parte da garantia de empréstimo feito anteontem para as linhas de transmissão de energia para o projeto de construção de usinas hidrelétricas no rio Madeira - no valor de R$ 7 bilhões - foi feita com as mesmas taxas praticadas pelo mercado. O empréstimo foi realizado com taxa fixa de 14,5% ao ano, mais a remuneração básica do BNDES (spread) de 1,3% ao ano, além da taxa de risco do empreendimento.
Até então, o orçamento do banco para este ano previa empréstimos de R$ 90 bilhões. Só que, recentemente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia anunciado um adicional de R$ 10 bilhões sobre o montante anterior que poderiam ser capitalizados em depósitos interbancários. Nos últimos 12 meses, o banco desembolsou R$ 119,6 bilhões até outubro.
Quanto a 2009, Coutinho considera positiva a hipótese de o BNDES usar parte das reservas do fundo soberano, projeto de lei que tramita no Congresso Nacional, como fonte de recursos. Caso seja aprovado, o fundo teria este ano R$ 14,2 bilhões, o equivalente a 0,5% da meta do superávit primário.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Viviane Monteiro)