Título: Paulson defende seu projeto de resgate
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Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2008, Finanças, p. B3

Washington, 19 de Novembro de 2008 - O secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, descartou ontem usar parte da verba que lhe foi atribuída para sustentar a economia, ressaltando que seu plano de resgate do sistema financeiro não é "a panacéia" para as dificuldades enfrentadas pelos Estados Unidos.

A lei de estabilização econômica de emergência por meio da qual o Congresso concedeu ao Tesouro US$ 700 bilhões "não é a panacéia para todas as nossas dificuldades econômicas", reiterou Paulson, durante uma audiência diante da comissão dos serviços financeiros da Câmara dos Deputados em Washington.

"O plano de resgate não foi concebido para ser um plano de recuperação, mas para consolidar as fundações de nossa economia estabilizando o sistema financeiro. Não se pode esperar dele que compense o impacto dos danos provocados por uma crise tão grave", declarou o secretário.

Os parlamentares democratas estão pressionando para que parte da verba do plano Paulson seja utilizada para medidas de apoio à economia, sobretudo a um setor automobilístico ameaçado de falência generalizada. A economia dos Estados Unidos já registrou um trimestre de retração e a expectativa é de que novo trimestre em queda confirme tecnicamente o cenário de recessão.

"A crise do nosso sistema financeiro já se alastrou para o resto de nossa economia. Vai demorar um pouco antes que o crédito seja reativado e conserte nosso sistema financeiro, algo essencial para a recuperação da economia", avisou Paulson em discurso aos parlamentares.

"Isso vai demorar, mas não tanto quanto teria demorado se não tivéssemos aprovado o plano de resgate para estabilizar nosso sistema", acrescentou.

Paulson confirmou seu anúncio da véspera, de que não pretende recorrer novamente à verba de US$ 700 bilhões de que dispõe até a entrada em funções do futuro presidente eleito Barack Obama, do Partido Democrata, que assume o cargo no dia 20 de janeiro.

"Fizemos o que era necessário, ao ajustar nossa estratégia para responder com a maior eficiência possível à urgência da crise e a preservar flexibilidade para o presidente eleito e o futuro secretário do Tesouro norte-americano", afirmou Paulson.

Na véspera, ele dissera ao Wall Street Journal que seu objetivo era "preservar o poder de fogo e a flexibilidade que temos agora para a equipe que nos sucederá".

O Tesouro já utilizou US$ 290 bilhões dos US$ 700 bilhões liberados pelo Congresso no início de outubro: US$ 250 bilhões foram destinados aos bancos, e outros US$ 40 bilhões foram emprestados à seguradora AIG.

Paulson, que desistiu em 12 de novembro do principal elemento de seu plano de resgate financeiro (um mecanismo de recompra dos créditos podres dos bancos acumulados durante a última crise imobiliária), reiterou aos parlamentares que considera mais simples e mais eficiente que o Estado tome diretamente participações em estabelecimentos bancários que estejam sãos.

Dos US$ 250 bilhões concedidos a este "programa de compra de capitais", o Tesouro já pagou US$ 148 bilhões a cerca de 30 bancos, e os pagamentos devem continuar sendo feitos.

Primeiros resultados

O presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, afirmou diante da mesma comissão que os esforços das autoridades estavam começando a dar resultados.O plano de resgate dos bancos e as medidas tomadas pelo Fed para lhes garantir a liquidez necessária "parecem estar estabilizando a situação e aumentando a confiança dos investidores nas companhias financeiras", declarou. "Há sinais de melhoria dos mercados do crédito, mesmo se de um modo geral, as condições do crédito estão longe de ser normais", acrescentou Bernanke, pedindo mais uma vez aos bancos que já receberam a ajuda do Estado que voltem a emprestar.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(AFP)