Título: Consumo de fertilizantes inverte tendência e pode retrair-se 8%
Autor: Botelho,Gilmara
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2008, Agronegócio, p. B11

São Paulo, 19 de Novembro de 2008 - A estimativa do consumo de fertilizantes para este ano, já anteriormente derrubada para volume igual ao de 2007 (25 milhões de toneladas), foi ainda mais depreciada. O crescimento de 4% previsto outrora, deu lugar à uma queda de 8%, que deve deixar o consumo anual de fertilizantes estacionado em cerca de 23 milhões de toneladas. "Não vamos chegar nem a 24 milhões de toneladas", admite Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).

No acumulado do ano, até o fatídico outubro - mês em que historicamente se registra o maior consumo - a queda já ultrapassou 2% em relação a igual período de 2007. Até setembro, o consumo estava em alta de 4,09%. Foi também em setembro que a Anda registrou retração de 25,3% nas vendas em comparação ao mesmo mês do ano anterior. Foram comercializadas apenas 2,2 milhões de toneladas. Número que deve se repetir em outubro, decretando uma queda de 30% em relação as 3,15 milhões de toneladas consumidas no farto outubro de 2007, ano em que o setor experimentou seu melhor momento.

Essa forte queda do uso de fertilizantes, já sacramentada por balanços do setor ainda não divulgados oficialmente, desnudam os volumes estacionados nos estoques das empresas. Especialistas falam em 6 milhões de toneladas paradas, montante que para a consultora Elizabeth Chagas já compromete o mercado até meados de 2009.

E com estoques abarrotados e demanda em baixa, os preços de quase todas as commodities fertilizantes e das matérias-primas utilizadas no processamento já recuaram. A tonelada do enxofre, produto do qual somos dependentes em quase 100% do mercado externo, é negociada a US$ 100 dólares no mercado interno, e olha que esse produto foi importado a US$ 840. Os fosfatados, que em julho foram negociados a US$ 1.200 a tonelada, podem ser adquiridos por menos de US$ 800. "A queda só não é mais sensível porque os produtos estão cotados em dólar, e a moeda americana se recuperou por aqui", calcula Daher. "O mercado não caminhou como o setor esperava. Neste momento está parado. As empresas fizeram as compras necessárias e agora não conseguem escoar. Os volumes estão estacionados. Embora tenham entrado menos importações, os navios que estavam sobre água atracaram e aumentaram ainda mais os estoques".

Ainda segundo Daher, o que é mais preocupante é a ausência de qualquer "movimento em relação ao próximo ano". E a balança comercial do setor, pressionada sobremaneira pelas importações de 72% dos fertilizantes consumidos pelo agricultura brasileira, tende a uma posição mais equilibrada. As compras do mercado externo, assim como os volumes nos estoques, estão estacionadas.

Situação que confirma o momento delicado pelo qual passa o agronegócio brasileiro. A notável restrição de crédito causada pela crise financeira mundial e sentida pelos produtores vai reduzir a tecnologia dispensada à safra 2008/09 e consequentemente a produção. Algumas empresas já sentem os impactos dessa queda da demanda por insumos. A Fertilizantes Heringer, que importa 100% dos nutrientes utilizados nas misturas que oferece ao mercado interno, registrou no terceiro trimestre deste ano resultado líquido negativo em R$ 72,3 milhões, perda concentrada nos estoques recheados com matéria-prima que não alcançaram o consumidor final, descapitalizado. Nos nove meses acumulados, a receita líquida manteve-se positiva em R$ 24,7 milhões.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Gilmara Botelho)