Título: BNDES libera valor recorde para usinas
Autor: Batista, Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2008, Agronegócio, p. B10

19 de Novembro de 2008 - Em meio às críticas de que está lenta a liberação de recursos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a instituição informou que em outubro destinou valor recorde ao setor sucroalcooleiro. Foram R$ 800 milhões, o maior desembolso mensal da história do banco a esse setor. "Existe sensibilidade do departamento em viabilizar os recursos em um curto espaço de tempo", justifica Paulo Faveret, gerente do departamento de Biocombustíveis. O banco deve também estender o apoio a outros setores do agronegócio. De acordo com Luciano Coutinho, presidente da instituição de fomento, um levantamento está sendo feito sobre a inadimplência da agricultura na aquisição de máquinas agrícolas e, caso necessário, pode haver renegociação desses débitos.

Com o volume de outubro, a contratação às usinas soma neste ano R$ 5,2 bilhões, 44% mais que em todo o ano de 2007, quando o banco destinou R$ 3,6 bilhões ao setor. O volume também representa 7,4% do desembolso total do banco para todos os setores até outubro. "Do ponto de vista do BNDES, esse atraso de liberação reclamado pelo setor não existe. O que acontece é que muitas empresas se financiaram com linhas de curto prazo ou pegaram empréstimo-ponte para tocarem seus projetos, o que aumenta a urgência desses grupos pelo dinheiro", justifica o gerente do departamento.

Faveret preferiu não fazer projeções para o fechamento de 2008 e para 2009. "É possível que no ano que vem também haja crescimento, apesar dessa crise. Isso porque a carteira sucroalcooleira do banco é grande, atinge R$ 26 bilhões, o que inclui desde projetos em fase de carta consulta, enquadrados, até aprovados", informa Faveret.

Ele garantiu que até o momento não foi detectado nenhum problema de inadimplência e nem de adiamento de projetos. "Não que isso não possa ocorrer. Mas, no caso de postergação, considero difícil de acontecer", avalia Faveret.

Ele acrescentou que a instituição não alterou seus parâmetros de avaliação de risco desse setor, cujos fundamentos de longo prazo continuam positivos. "O BNDES tem política conservadora de análise de risco, que considera fundamentos de longo prazo. Nunca projetamos grandes exportações para álcool ou grandes volumes de seu uso para alcoolquímica. As perspectivas avaliadas sempre consideraram o mercado interno, que, inclusive, nos surpreendeu com a elevada venda de carros-flex", diz Faveret.

Para o açúcar, os fundamentos também são positivos, na avaliação de Christoph Berg, diretor da consultoria F.O. Licht. "Do ponto de vista de fundamentos, temos um déficit mundial na produção de açúcar que aponta para cotações de 16 centavos de dólar por libra-peso", diz Berg. Mas a crise alterou esses patamares e a commodity está valendo próximo de 12 centavos. "Se as cotações não subirem, o déficit mundial vai se estender por mais dois anos, com produção se recuperando só em 2011", diz Berg.

Adiamentos

Apesar de as estatísticas do BNDES ainda não refletirem a crise no setor, novos projetos de usinas no País estão sendo adiados, segundo informou à agência Reuters o presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari. Na conferência da Organização Internacional de Açúcar (OIA), em Londres, Nastari afirmou que além das 12 usinas previstas para este ano que não entraram em operação, já há expectativa de que para 2009 apenas entre 22 e 25 novas usinas comecem a moer, uma vez que 43 estavam previstas.

Além de 2009, a crise também já está afetando projetos até 2012. De acordo com a Dedini, maior empresa de equipamentos para usinas do Brasil, a falta de crédito suspendeu 35% das novas usinas que deveriam entrar em operação 2011 e 2012.

Bolha agrícola

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, informou ontem que a instituição está fazendo um levantamento juntamente com os ministérios da Fazenda e da Agricultura para saber a situação dos empréstimos feitos para aquisição de máquinas agrícolas, via Moderfrota. Coutinho disse que os valores podem ser refinanciados, caso seja comprovado aumento da inadimplência no setor gerado pelo caos financeiro que se instalou diante da escassez de crédito no sistema financeiro.

Há sinais no mercado de que há uma bolha de inadimplência se instalando no setor agrícola. Coutinho descarta a hipótese de que o problema seja gerado por dificuldades localizadas no setor agrícola. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, confirmou a informação de Coutinho, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal. Segundo ele, o levantamento está sendo feito e, caso seja necessário, os débitos com indústrias de máquinas agrícolas poderão ser refinanciados. O ministro discordou de senadores que disseram que estariam se criando uma espécie de subprime no setor agrícola.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 12)(Fabiana Batista e Viviane Monteiro)