Título: Governo revê para baixo consumo de energia em 2009
Autor: Scrivano,Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2008, Infra-Estrutura, p. C4

São Paulo, 19 de Novembro de 2008 - A crise internacional e a conseqüente desaceleração do setor produtivo brasileiro vão afetar o consumo de energia no País. A informação é de Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia.

"Nós revisamos para baixo as nossas projeções de crescimento do consumo para 2008 e 2009 em quase um ponto percentual para cada ano", afirma o executivo, que salienta: "Apenas em 2009 a revisão é reflexo da crise financeira. Em 2008, o menor consumo se dará por conta das temperaturas mais amenas que tivemos neste verão e pelo atraso da interligação (linha de transmissão) de Acre a Rondônia", esclarece.

Tolmasquim detalha que, para 2009, a EPE trabalha com uma projeção de Produto Interno Bruto (PIB) de 4%, contra 5% anteriormente previsto. "Desta forma, o consumo de energia deve crescer 5,2%, contra a primeira projeção de 5,8%", diz.

Em 2008, com uma previsão de crescimento do PIB também na casa dos 4% contra expectativa inicial de 5%, a EPE projeta incremento na demanda por eletricidade de 4%, contra os 4,9% da primeira expectativa.

Apesar do tom ameno dado pelo órgão do governo, agentes do setor elétrico brasileiro têm previsões mais pessimistas. "A expectativa de PIB da EPE é bastante otimista em relação às projeções dos bancos de 3,5% e 3,8%", considera Marcelo Parodi, presidente da comercializadora Comerc. "Com um PIB a 3,5%, o consumo de energia será de 3,5%", estima.

Ricardo Lima, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), concorda com Parodi. "O PIB não alcançará 4%", comenta. "Trata-se de uma situação preocupante", acrescenta.

Setor a setor

"A Comerc faz um acompanhamento das 119 unidades consumidoras atendidas pela empresa e, na comparação de setembro contra outubro, é possível perceber fortes desacelerações em setor específicos", afirma Parodi, da Comerc. O especialista chama atenção para os números do setor de eletrointensivos (metalurgia, responsável por 26% do consumo total de energia do País), que demonstraram redução na demanda de 7% de um mês contra o outro. "Papel e celulose teve redução de quase 8% na demanda, química e petroquímica caiu 10%", comenta.

Porém, Parodi ressalta que o setor de comércio consumiu 9% a mais em outubro do que em setembro. "No setor industrial, está claro que há uma postergação nos projetos de expansão", diz o presidente da Comerc. "As empresas estão inseguras com o futuro da economia", enfatiza.

Tolmasquim sinaliza uma redução mais forte no consumo energético do setor automotivo. "Podemos falar em redução no desempenho daqueles setores que já estão dando sinais de arrefecimento como os que anunciaram férias coletivas aos seus funcionários", comenta o executivo.

"Redução no consumo é um movimento preocupante. A demanda por energia é reflexo do desempenho do mercado, portanto, se o consumo está caindo o mercado também está indo para baixo", afirma Lima, da Abrace.

O presidente da EPE, porém, salienta que "a economia desacelerar é péssimo para o País". "Olhando apenas o setor de energia, sem considerar a redução na economia, é positivo haver recuo no consumo", argumenta.

Tolmasquim diz que a "redução de apenas 0,6 pontos percentuais na projeção para o consumo nacional em 2009 considera a demanda dos setores residencial e comercial, que devem continuar crescendo independente do desempenho do Produto Interno Bruto". "Por outro lado, no segmento industrial - que representa 45% do consumo nacional - esperamos ter os efeitos da desaceleração econômica", admite.

Lima, da Abrace, porém, acredita que, se houver agravamento na crise financeira mundial, os setores de comércio e residencial também serão afetados e, conseqüentemente, a demanda por energia será novamente puxada para baixo. "Se há redução no PIB o reflexo também será sentido na renda e no emprego do cidadão brasileiro e estes são os fatores que movimentam os setores residencial e comercial", comenta. "Os reflexos da crise, que ainda são desconhecidos, já preocupam".

Para o ano de 2010, entretanto, Tolmasquim afirma que a projeção de demanda com crescimento de 5%, que é a média dos anos posteriores, foi mantida. "Mantemos este número porque está cedo para afirmar algo em relação a 2010", afirma o presidente da EPE.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 5)(Roberta Scrivano)