Título: Renda fixa atrai investidor estrangeiro
Autor: Rosa, Silva
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/11/2008, Capital Aberto, p. B5

São Paulo, 20 de Novembro de 2008 - Com a retração do mercado de capitais, os bancos brasileiros apostam no lançamento de fundos de renda fixa para atrair recursos dos investidores estrangeiros. Com uma das maiores taxa de juros do mundo, hoje em 13,75%, o Brasil se encontra em uma situação peculiar no mercado global, apresentando ativos atrativos tanto na renda fixa, quanto em renda variável.

Mesmo com a diminuição da liquidez para países emergentes, pelo aumento da aversão ao risco, os gestores brasileiros continuam apostando no lançamento de fundos offshore, voltados para investidores estrangeiros. A região da Ásia, principalmente o Japão, tem sido um dos mercados mais visados.

O Bradesco anunciou recentemente a captação de R$ 370 milhões em seu primeiro fundo de renda fixa lançado no Japão em parceria a Mitsubishi UFJ Asset Management, que investe em títulos públicos brasileiros. O fundo, que continua aberto para captação, é distribuído para os investidores de varejo, e tem aplicação mínima de US$ 100. "Com uma taxa de juros muito baixa, hoje em torno de 0,3%, os investidores japoneses têm uma grande demanda por diversificar seus investimentos", afirma Luiz Osório Leão Filho, gerente de projetos internacionais da Bradesco Asset Management.

O Bradesco, que hoje tem apenas uma unidade de representação no Japão para envio de remessas de recursos, estuda a abertura de unidade da Bram Securities em Tóquio.

Além da Ásia, o Bradesco também lançou no ano passado um fundo de capital comprometido, de US$ 160 milhões, em parceria com o Banchile.

Depois de montar um fundo de ações brasileiras no Japão, em abril de 2006, e outro na Coréia do Sul, em fevereiro deste ano, o banco HSBC iniciou em outubro a distribuição de um fundo de renda fixa no Japão, HSBC Brazil Bond, que já conta com a captação de US$ 40 milhões. "Com a queda do preço das ações tem havido maior interesse dos investidores estrangeiros por ativos de renda fixa, mas a volatilidade da moeda brasileira pode atrapalhar a atratividade desse investimento, uma vez que o investidor corre o risco de perder parte de sua rentabilidade. No entanto, assim que o câmbio se estabilizar os fundos de renda fixa devem ter grande apelo", afirma Luiz Ribeiro, gestor de renda variável dos fundos offshore do HSBC.

O Itaú também tem ampliado sua presença no mercado asiático, lançando três fundos na Coréia do Sul e cinco no Japão. Em agosto o banco fechou parceria com a Daiwa Securities Group para distribuição de seus fundos para o mercado de varejo japonês. O primeiro fundo de renda fixa, Daiwa Brazil Bond Fund, captou US$ 305 milhões, e o banco abriu mais dois fundos de renda fixa em outubro, que serão distribuídos em parcerias com terceiros, que já contam com captação de US$ 35 milhões.

A mesma instituição lançou em agosto um fundo de ações com foco em América Latina, com patrimônio de US$ 62 milhões, além de fundo de ações brasileiras em parceria com o Sumitomo Mitsui Banking Corporation e a Nikko Asset Management.

O Itaú também tem ampliado a presença na Coréia, lançando no ano passado um fundo de ações brasileiras, com patrimônio de US$ 48 milhões, um fundo de renda fixa, com patrimônio de US$ 21 milhões, além de um fundo de ações voltado para a América Latina, que conta hoje com US$ 10 milhões, em parceria com a Daewoo Securities e a KDB Asset Management. "A cultura do investidor japonês é voltada para o longo prazo, e apesar da crise não registramos um movimento de resgates nos fundos de ações", afirma Marcelo Fatio, responsável pela área de superintendência de clientes estrangeiros.

A investida no mercado asiático faz parte de movimento de internacionalização do banco. O Itaú, que já tem um escritório de representação no Japão e em Hong Kong, está em processo de autorização para abrir uma corretora no Japão por meio da Itaú Securitie, e deve inaugurar este ano um escritório de representação em Dubai. "Há uma demanda muito grande por ativos brasileiros no Oriente Médio, nos segmentos de renda fixa, ações, fundos de private equity e investimentos no setor imobiliário", diz Fatio.

O diretor da BNP Paribas Asset Management diz acreditar que há grande potencial de atração de investidores para ativos de renda fixa brasileiros, assim que ficar definida a tendência do câmbio. O banco lançou fundo de renda fixa no Japão, com patrimônio de US$ 100 milhões e está em negociação para um de renda fixa a investidores institucionais chilenos.

Além dos fundos de renda fixa, o BNP Paribas conta com a distribuição de um fundo de ações brasileiras no Japão e outro distribuído globalmente, além de um fundo com foco na América Latina, distribuído na Ásia. O banco ainda tem dois fundos de ações , um com foco na América Latina e outro no grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), distribuídos globalmente. "O Brasil tem se destacado entre os emergentes, e estamos com posição acima da média para Brasil e China, que tem performado melhor entre os Brics", diz Sorge.

Atratividade renda variável

Ribeiro afirma que a aversão ao risco ainda está muito alta fazendo com que o fluxo de recursos para mercados emergentes continue estabilizado, com os investidores buscando proteção em ativos mais líquidos, como os fundos de renda fixa e de curto prazo (money market)."Porém, assim que o cenário internacional se tornar mais previsível devemos ver uma retomada dos investimentos para os mercados emergentes e o Brasil sairá em vantagem, pois não deve sofrer uma desaceleração econômica tão forte quanto algumas economias desenvolvidas", diz.

"O pior mês para a captação dos fundos foi em setembro, mas mesmo assim o ajuste foi muito rápido e não registramos grandes saques", afirma Ribeiro.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Silvia Rosa)