Título: População brasileira assume identidade racial, afirma Ipea
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/11/2008, Nacional, p. A6

Brasília, 21 de Novembro de 2008 - Estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela o fenômeno do "escurecimento da população brasileira" nos últimos dez anos. Mas a pesquisa indica que mudanças na maneira de pensar das pessoas - e não elementos de cunho demográfico - são responsáveis pela quase totalidade da mudança. Segundo o Ipea, o que ocorre, na verdade, não é que o Brasil esteja se tornando uma nação de negros, mas está se assumindo como tal.

Descendência

De acordo com a publicação "Desigualdades raciais, racismo e políticas públicas 120 anos após a Abolição", até o início dos anos 1990 a população negra vinha aumentando de modo "relativamente lento e vegetativo", por meio de uma taxa de fecundidade um pouco mais alta para pretos e pardos - além do fato de que descendentes de casais de negros e brancos terem maior probabilidade de ter filhos pardos.

Legitimidade social

Já em algum momento entre 1996 e 2001 começa um processo de mudança na maneira como os brasileiros se vêem. Durante o período, segundo o Ipea, as pessoas passam a ter menos vergonha de se identificar como negras e deixam de se "branquear" para se legitimar socialmente. "Essa mudança é um processo surpreendentemente linear, surpreendentemente claro e, ao que tudo indica, ainda não terminou", diz a pesquisa.

O estudo indica que a mudança se deve, em grande parte, à influência do movimento negro e seu impacto sobre o comportamento da sociedade brasileira. "À medida que o debate da identificação racial ganha as páginas dos jornais e a sociedade vê que é um tema legítimo; que negros são apresentados nas telenovelas como personagens poderosos e não apenas empregados domésticos; são vistos compondo o Supremo Tribunal Federal (STF) e ocupando os mais diversos cargos na política; que o movimento negro sai da marginalidade e ocupa espaços no debate político, a identidade negra sai fortalecida."

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Agência Brasil)