Título: Compra da Nossa Caixa sai por R$ 7,56 bi
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Fonte: Gazeta Mercantil, 21/11/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 21 de Novembro de 2008 - Após seis meses de negociações que exigiram várias viagens do governador de São Paulo, José Serra, a Brasília e algumas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e até do próprio presidente da Repúplica, Luiz Inácio Lula da Silva, à capital paulista, foi fechado ontem um memorando de entendimento para a compra pelo Banco do Brasil (BB) do Banco Nossa Caixa, controlado pelo governo paulista. O negócio avalia a Nossa Caixa em R$ 7,56 bilhões, ou R$ 70,63 por ação. Dono de 71,25% da instituição, o governo paulista receberá R$ 5,38 bilhões, em 18 parcelas, corrigidas mensalmente pela Selic, de R$ 299,24 milhões, com início de pagamento a partir de março de 2009, quando a incorporação dos ativos deverá ser iniciada.

A transação deverá gerar ganhos de sinergias entre R$ 2 bilhões e R$ 4 bilhões, em cinco anos, prevê o presidente do BB, Antônio Francisco Lima Neto, informando que o valor pago é o de mercado, quando questionado sobre possíveis influências políticas que teriam sobrevalorizado os ativos. "Foi uma negociação feita em bases técnicas." Ele citou as várias assessorias financeiras independentes - como a Merrill Lynch, PricewaterhouseCoopers, Accenture e UBS Pactual - contratadas pelas duas instituições para realizar a avaliação dos ativos.

Em relação ao valor patrimonial atual da Nossa Caixa, o preço a ser pago estipula um ágio de R$ 1,8 bilhão, em créditos fiscais ativados, em período de cinco anos - prazo em que o ágio será amortizado e dedutível do Imposto de Renda. "Trazido a valor presente, fica em torno de R$ 1 bilhão", explicou Lima Neto, observando que os próximos passos para a concretização do negócio serão a formalização do contrato de aquisição e as aprovações pelo Banco Central e pela Assembléia Legislativa de São Paulo, que o executivo espera ocorra ainda este ano, antes do recesso.

Até o final de fevereiro, o BB espera ter encerrado todos os trâmites burocráticos para a aquisição e estima assumir as operações em março, quando transformará a Nossa Caixa em subsidiária e pretende, em um ano, consolidar os ativos. Lima Neto afirmou que nesse prazo as duas marcas serão mantidas e, após, a Nossa Caixa deixará de existir. As demissões, se ocorrerem, não serão volumosas, já que um dos grandes atrativos da instituição paulista, segundo Lima Neto, é a baixa sobreposição em relação ao BB de estrutura e de pessoal. "Teremos, no máximo, o fechamento de 30 agências e em municípios que não comportam duas agências da mesma bandeira", disse o vice-presidente do BB, Aldo Mendes. Lima Neto afirmou que os funcionários são os ativos mais importantes e serão acolhidos no time.

A baixa sobreposição somada à utilização da base de clientes da Nossa Caixa para ampliar as operações de crédito e colocação de outros produtos são os principais fatores a gerar ganhos com sinergias, impactando positivamente o lucro nos próximos anos. Se contabilizados os resultados deste ano, BB e Nossa caixa tiveram lucro líquido de quase R$ 6,5 bilhões. O presidente do BB acredita que cerca de dois terços dos ganhos previstos em cinco anos virão do aumento das receitas com essa maximização da base de clientes e um terço com otimização de gastos com tecnologia da informação e despesas administrativas. "Podemos ampliar os serviços e melhorar o que já é bom na Nossa Caixa com o padrão operacional do BB, que é mais eficiente. Quando conseguirmos transferir esse modelo para a Nossa Caixa, vamos elevar o valor da franquia", afirmou Mendes. O índice de eficiência do BB - que mede o comprometimento da receita com as operações - está em torno de 45%, comparativamente aos 69,6% da Nossa Caixa, exemplificou.

Lima Neto enfatizou que o ganho de escala e a maior eficiência deixarão o BB mais competitivo no mercado, com taxas que serão melhores que as dos concorrentes. Com a compra, o número de agências do BB cresce em 13%, para 4.888, e o número de clientes sobe 12%, a 53,3 milhões. Os depósitos totais avançam 15%, atingindo R$ 264 bilhões. "A Nossa caixa é um ativo extremamente líquido, o que é de grande importância nesses momentos de crise. E esse aumento substancial no volume de depósitos acrescenta capacidade operacional e possibilita um bom avanço no crédito", afirmou Mendes.

O presidente do BB citou que em depósitos à vista, judiciais (a Nossa Caixa tem cerca de R$ 16 bilhões, sendo um dos seus principais atrativos) e poupança os bancos somam R$ 158 bilhões, uma relação de 13% ante o carteira de crédito conjunta, em torno de R$ 214 bilhões. "Frente a outros bancos é muito maior. E os outros bancos já esgotaram as possibilidades de busca desses recursos, que são mais baratos, o que nos deixa bastante competitivos no mercado, pois teremos taxas melhores a oferecer."

A compra da Nossa Caixa - que consolida a posição do BB como segundo maior do País em ativos, depois da fusão entre Itaú e Unibanco, com R$ 512,7 bilhões - garante à instituição a liderança no mercado paulista em número de agências, com 1,32 mil no Estado. Até a fusão do Itaú-Unibanco, o BB era o maior banco da América Latina, no entanto, amargava a quarta posição no maior centro financeiro da região.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Iolanda Nascimento)