Título: Inadimplência afetará BNDES no 1º- trimestre
Autor: Monteiro,Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/11/2008, Nacional, p. A5
Brasília, 24 de Novembro de 2008 - O prejuízo de empresas que especularam com derivativos cambiais deve gerar uma bolha de inadimplência no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sobretudo no primeiro trimestre de 2009, período em que o faturamento das companhias entra em baixa, afetando seu fluxo de caixa e a capacidade de pagamento de dívidas.
Fontes reservadas do sistema financeiro afirmam que dirigentes do BNDES estão preocupados com a situação que pode complicar ainda mais o orçamento do banco para o próximo ano. Uma das opções da instituição, confirmada pelo BNDES, é lançar programas de refinanciamento das parcelas dos débitos que vencem no período.
Caso o socorro se confirme "não será uma medida generalizada para todas as empresas". O BNDES analisará caso a caso para conceder a ajuda. Mas ainda considera prematuro o debate sobre a adoção dessa medida. Ela vai depender muito dos investimentos programados pelas empresas devedoras nos próximos anos. Com isso, o governo manteria os planos de financiamento das companhias.
O governo está disposto a fazer essas concessões para evitar uma forte desaceleração da economia. O Executivo já reduziu a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, de 4,5% para 4%, conforme consta do Orçamento da União enviado ao Congresso Nacional. Esta estimativa, entretanto, ainda está acima da esperada pelo mercado de até 3%.
Até o momento, estão nesta lista de hedge empresas consolidadas como Sadia, Aracruz e Votorantim que anunciaram perdas em torno de R$ 5 bilhões com as operações de proteção cambial. O governo, porém, já estimou um número ao redor de 200 empresas que estariam expostas a este tipo de operação. Isso aconteceu porque estas empresas apostaram na valorização da real frente ao dólar e foram surpreendidas com a disparada da moeda norte-americana em decorrência do agravamento da crise financeira mundial, em meados de setembro.
Todas as companhias de grande porte têm contratos com BNDES. Oficialmente o banco afirma que "não pode discutir casos particulares de empresas que são clientes do Banco mas, de maneira geral, não vislumbra um cenário de aumento relevante de inadimplência em sua carteira de crédito. No momento, os fluxos de pagamento ao BNDES estão absolutamente normais".
Os prejuízos também devem respingar nos caixas dos bancos do setor privado, porém em menor magnitude, pois o grosso dos financiamentos empresariais é feito pelo BNDES. Segundo fontes do mercado, começa a acumular sobre a mesa da Febraban uma lista de inadimplentes. A federação não quis comentar o assunto.
O próprio presidente do banco de fomento, Luciano Coutinho, tem afirmado que o banco já está com o caixa apertado para garantir os desembolsos aos empresários, sobretudo para 2009. Segundo o BNDES, os recursos previstos para este ano, superiores a R$ 90 bilhões, já estão praticamente garantidos.
O governo já negocia novos empréstimos com o Banco Mundial (Bird), no valor de R$ 5 bilhões; e discute com o Banco Central a liberação de compulsórios no sistema financeiro, que reforçariam o caixa banco por meio de empréstimos via Certidões de Depósitos Interbancários (CDI) no valor de R$ 10 bilhões.
O BNDES confirmou sexta-feira que o banco já fechou empréstimos de R$ 4 bilhões com a Caixa Econômica Federal (CEF). Houve uma nova negociação com a CEF para liberar um adicional de R$ 1,5 bilhão, além dos R$ 2,5 bilhões negociados anteriormente. As maiores fontes de recursos do banco são o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que repassa 40% dos seus recursos ao banco de fomento, e o retorno dos empréstimos. O orçamento do FAT para 2008 é de R$ 33,9 bilhões e para 2009 R$ 38,2 bilhões.
O BNDES não confirma que os desembolsos do banco atingirão cerca de R$ 120 bilhões previstos pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, porém garante que as cifras ficarão acima dos R$ 90 bilhões estimados para 2008. Segundo dados do banco de fomento, nos últimos 12 meses, até outubro, já foram aprovados projetos no valor total de R$ 119,6 bilhões.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Viviane Monteiro)